Não tenho publicado novas postagens no blog, talvez pela falta de assuntos que impactem minha lógica de pensar e de desejar compartilhar com os amigos, entretando, hoje, ao o acessar o Blog do Noblat, encontrei um artigo do teólogo Leonardo Boff, sobre um tema que julguei interessante- Elogio à sesta - que, historicamente, sempre considerei perda de tempo e estimuladora da preguiça.
De algum tempo para cá, em decorrência de mudança de hábito após o almoço, experimentei alguns minutos de sesta. Em diversas oportunidades observei que, sempre que isso acontecia, melhorava minha capacidade de raciocínio e não sentia cansaço quando a jornada de trabalho se prolongava. Nos últimos tempos tenho tentado incorporar a sesta na minha rotina, ainda sem muito sucesso
Acho que vale a pena ler o artigo abaixo:
Depois que o jornalista e amigo Zuenir Ventura se aventurou, num importante jornal do Rio (29/05), a exaltar os benefícios da sesta como algo que faz bem à saúde e, mais ainda, que representa uma necessidade biológica tornando as pessoas mais inteligentes, me animei a fazer o elogio da sesta. É um velho propósito que alimento há anos, tendo feito até pesquisas sobre o assunto. Era até para justificar o fato de que sou um inveterado sesteiro. Tão inveterado que condiciono algumas palestras à possibilidade de fazer uma pequena sesta depois do almoço nem que seja numa poltrona ou cadeira.
Em Friburgo na Alemanha tomaram tão a sério a minha vontade que numa sala montaram uma cama de campanha para que pudesse fazer a bendita sesta. Mas não aconteceu, porque alguns alemães têm o mau gosto de organizar, durante o almço, um encontro com algum grupo que quer conversar até sobre questões metafísicas. O resultado é que estragam seu almoço ou você acaba não comendo e, o que é pior, não tem mais tempo de fazer a indispensável sesta.
Pessoalmente vou para cama sempre recalcitrando. Não gosto de dormir e retardo o mais que posso a hora de me deitar. Mas há poucas coisas melhores, entre as gratas satisfações que o Criador deu aos "degradados" filhos e filhas de Adão e Eva, do que uma boa sesta. Não precisa ser longa. Bastam uns 20 minutos. À exceção dos sábados e domingos. Ai tomo, como bom descendente de italianos, dois copos de vinho. Não é tanto pelo vinho, mas por aquilo que ele propicia: uma sesta mais profunda e mais prolongada. Ai eu durmo "a piernas sueltas" como dizem os espanhóis, bem traduzido pelos caboclos mineiros "durmo de pé espalhado".
É misteriosa a origem da sesta. Mas por sua bondade intrínseca deve estar ligada ao processo da antropogênese, quer dizer, deve existir desde que irrompeu o ser humano. Se até os animais fazem sesta, como não iríamos fazê-la nos humanos, irmãos e irmãs mais complexos dos animais?
Alguns acham que no Ocidente ela foi oficialmente introduzida pelos monges e pelos frades. Há um dito saboroso em espanhol que diz: "si quieres matar un fraile, dale de tomer tarde e quitale la siesta", traduzindo:"se queres matar um frade, dá-lhe de comer tarde e tira-lhe a sesta". Na Espanha a sesta é tão sagrada que grande parte do comércio fecha por duas horas. Nos conventos, assisti que frades chegavam a colocar pijama para fazer a sesta, especialmente depois de tomarem uns bons copos de vinho seguidos de um excelente conhaque.
Conta-se que Newton e Churchil tiveram suas melhores idéias depois da sesta. Victor Hugo falou da sesta ao se referir ao leão num poema que tem por título:"la meridienne du lion"(a sesta do leão). Beaudelaire en "La belle Dorothée" diz inteligentemente (porque fazia sesta):"a sesta é uma espécie de morte saborosa, na qual quem dorme, semi acordado, degusta as volúpias de seu desaparecimento". René Louis, em suas "Mémoires d'un Siesteur"(Memória de um Sesteiro) diz muito bem: "a sesta permite me observar dormindo; é o momento em que o tempo pára e se cala". F. Audouard, em seus "Pensées" diz belamente:"Na Provence o sol nasce duas vezes: de manhã e depois da sesta".
Aqui está para mim a vantagem da sesta: ela nos brinda uma segunda noite e dois nasceres do sol. A sesta nos permite ter, no mesmo dia, um segundo dia. Ao despertar da sesta, tudo recomeça com renovado vigor como se reiniciássemos o dia.
Se me tolhem a sesta, o corpo se vinga, especialmente durante palestras que ouço: dormito, pestanejo e, não raro, durmo mesmo. Nem posso imaginar um dia inteiro com atividade mental, prestando atenção a tantas coisas e tendo que ordenar não sei quantas idéias sem uma sesta reparadora.
A sesta é uma sábia invenção da vida. Descansa a cabeça, faz esquecer os aborrecimentos e nos dá a rara experiência virtual de docemente morrer (o sono é uma bela metáfora da morte) e de novo ressuscitar.