segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Razão e Preconceito

INSTITUTO LULA

Ralph J. Hofmann

Com a criação do Instituto Lula, o segundo instituto dedicado à obra de um presidente brasileiro, terceiro se considerarmos o mausoléu cooptado por Sarney em seu estado natal, parece aberto o caminho para a existência das bibliotecas-museus presidenciais nos moldes das congêneres nos Estado Unidos.

Essas bibliotecas presidenciais normalmente abrigam os documentos da vida e da carreira pública desses presidentes e até mesmo em alguns casos o local onde serão enterrados os titulares da instituição. Cada biblioteca presidencial costuma ser no estado que em que nasceu o presidente ou aquele associado à imagem do mesmo se tiver migrado em algum momento.(*)

Entre os materiais celebrando a era e a obra dos presidentes costumam estar expostos os presentes recebidos aceitos em nome da instituição da presidência e que não podem ser aproveitados privadamente.

São também celebradas as idiossincrasias dos mesmos. Por exemplo, George W. Bush é um famoso assador de “barbecues”, os churrascos de seu estado, o Texas. Sempre que recebia visitas importantes tentava marcar um fim de semana no seu rancho no Texas para servir ao visitante na sua casa. Supõe-se que no museu seja possível encontrar sua receita de “barbecue sauce”, o molho para barbecue favorito do presidente. 

Imaginamos que no Instituto Lula seja possível encontrar a receita de coelho assado do ex-presidente Lula assim como o endereço do fabricante de salsicha que despachava lingüiças, chouriços e salames para a mesa da Granja do Torto. Talvez o nome da cabaña Uruguaia que cria os bois sacrificados para colocar à mesa as picanhas presidenciais.

Contudo, corre à boca pequena, que o local de destaque do Museu do Instituto Lula será a sala dos etílicos. Segundo estes rumores serão mais de 3.000 garrafas de marcas individuais de cerveja, 300 marcas de uísque escocês, 100 de uísque irlandês e 200 marcas de pinga nacional.

Paira uma dúvida sobre se o conteúdo dessas garrafas sobreviverá ao presidente que já informou que é nessa galeria que deverá ser instalada sua mesa de trabalho, que deverá ter uma máquina de gelo embutida.

Não foi possível obter informação sobre a criação de uma sucursal em Caetés ou se algum dos onze containeres removidos de Brasília continha material destinado ao museu. 

(*) Assim sugerimos que um Instituto Sarney deveria ser no Amapá. Ou não?

Fonte: Blog Giulio Sanmartini

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Crise Econômica Mundial e o Brasil


O jornal O Estado de São Paulo publica, hoje, 8, entrevista com o ex-presidente do Banco Central do Brasil, Pérsio Arida, que  analisa a conjuntora  econômica mundial e os possíveis reflexos no Brasil. Leiam abaixo:

''Crise pode forçar queda nos juros''

David Friedlander - O Estado de S.Paulo
Entrevista
Paulo Giandalia/AE
Paulo Giandalia/AE
Reflexo da crise. Persio Arida afirma que todo episódio de aversão ao risco afeta a propensão a investimento
Persio Arida
Se a crise da dívida dos países ricos piorar e avançar para um movimento de aversão generalizada ao risco, o Brasil precisará baixar juros em vez de aumentar o gasto público. A opinião é do economista Persio Arida, sócio do Banco BTG Pactual, e ex-presidente do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Um dos economistas mais admirados do País, Arida diz que ainda é preciso avaliar melhor o cenário nebuloso em que se dá o repique da crise mundial, que envolve as dificuldades dos países europeus com suas dívidas e ganhou mais lenha na fogueira na sexta-feira, quando a agência de classificação de risco Standard & Poor"s rebaixou a nota da dívida dos Estados Unidos.
Caso essa onda se transforme num movimento global de aversão ao risco, e as chances existem, a atividade econômica tenderá a diminuir no mundo, afetando o Brasil. "Se isso de fato acontecer, na minha opinião tem que contra-arrestar o efeito negativo diminuindo a taxa de juros e não aumentando o gasto público", diz Arida. Em 2008, o país fez as duas coisas: baixou os juros e jogou um caminhão de dinheiro na economia.
Quais as consequências do rebaixamento da nota da dívida dos Estados Unidos?
Primeiro há uma questão técnica sobre a nota, que é saber se houve um erro da Standard & Poor"s (S&P), como diz o governo americano, ou não. Do ponto de vista das expectativas dos mercados, a avaliação sobre esse possível erro faz uma grande diferença. Por outro lado, a longo prazo é de se esperar uma piora na qualidade da dívida soberana tanto dos Estados Unidos quanto dos países europeus. A consequência desse fenômeno deve se traduzir numa aversão generalizada ao risco, o que tende a implicar no desaquecimento da economia global.
Então, mesmo que o Brasil não esteja no centro da crise, ela deverá transbordar para cá...
Todo episódio de aversão ao risco afeta a propensão a investimento e, portanto, tem consequência de desaceleração. No Brasil, parte disso já está de alguma forma precificado no mercado futuro de juros. Mas, se de fato houver uma percepção de mercado muito negativa, é de imaginar que se passe a ter no Brasil um impacto negativo na atividade que poderia ser contra-arrestado ou por política fiscal ou por política monetária. O ideal para o País é que fosse contra-arrestado exclusivamente por política monetária.
O sr. está falando em baixar os juros?
Do nosso ponto de vista, o efeito da turbulência de curto prazo é sempre uma aversão generalizada ao risco e a atividade econômica tende a cair. Nesse sentido, entendo que a resposta ideal de política econômica é exclusivamente via política monetária e não via política fiscal, e muito menos de crédito. Tem que contra-arrestar o efeito negativo diminuindo a taxa de juros e não aumentando o gasto público.
É o oposto do que o governo vem fazendo...
O que estou dizendo é o seguinte: se de fato houver uma aversão generalizada ao risco, porque o que houve até agora foi queda de bolsa, muito forte, mas não necessariamente uma aversão generalizada ao risco, como é que o País deveria responder? Na minha opinião, via política monetária e não via política fiscal.
O sr. vê risco de rebaixamento de dívidas em cascata na Europa?
Ao longo do tempo é de se imaginar que toda dívida soberana desses países que resolveram o problema de excesso do endividamento privado transferindo parte da dívida para o setor público tenda a resultar em ratings (avaliações) piores. Portanto, não me surpreende como processo, como tendência de longo prazo.
E no curto prazo?
Ainda é cedo para dizer. Imagino que a resposta óbvia para essa crise europeia é um programa maciço de recompra de títulos soberanos pelo Banco Central Europeu. Não sei se vão fazer isso ou não, mas é o óbvio. É possível que a situação se reverta no curto prazo se tiver esse programa de recompra do BC europeu, mais os questionamentos pelos agentes de mercado quanto à avaliação da S&P. Se isso ocorrer, é possível que a situação seja menos dramática do que parece agora.
Como o sr. avalia a reação da China, que pediu supervisão internacional sobre a emissão de dólares e a adoção de uma nova moeda global?
Como principal credor soberano dos Estados Unidos, a China tem uma preocupação evidente com a sustentabilidade da trajetória da dívida americana. Mas não está muito claro o que eles têm em mente. Durante algum tempo a China argumentou pela transformação dos direitos especiais de saque do Fundo Monetário Internacional como moeda global. Não sei se é exatamente isso que eles têm em mente hoje. Agora, como traduzir isso numa nova arquitetura global é uma questão muito complexa, não acho que o mundo esteja preparado para respondê-la neste momento.
É bobagem pensar que os investidores vão fugir dos títulos americanos por causa de tudo que está acontecendo agora?
Processos de mudança de moeda reserva são historicamente lentos e entremeados de desdobramentos políticos. Não imaginaria transições muito abruptas nessa direção. 
Fontehttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso