domingo, 22 de agosto de 2010

Lucros dos bancos na era Lula

Quem diria que os bancos privados teriam lucros tão formidáveis, num governo dito de esquerda! Nada melhor do que o exercício do poder para mostrar que entre o discurso e a prática há muitas diferenças.

"Dados consultoria Economática revelam que o lucro líquido dos três maiores grupos financeiros do País (Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco), que respondem hoje por quase 80% do mercado, saltou quase 420% entre os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e os sete anos e meio da gestão Lula (de 2003 até o primeiro semestre de 2010).

Os ganhos dessas instituições somaram R$ 167,471 bilhões desde 2003, contra R$ 32,262 bilhões no governo anterior. Os valores estão corrigidos pelo IPCA. Segundo especialistas, os bancos conseguiram quintuplicar seus ganhos, sobretudo com a explosão do mercado de crédito; com os juros, comparativamente à média mundial, elevados; com a cobrança de tarifas e com o forte movimento de concentração bancária."

Fonte: Vide Versus

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Donatário - texto integral

A jornalista Miriam Leitão escreve, hoje, em O Globo, um artigo permeado de muita lucidez, ao comentar passagem do programa eleitoral de Dilma Roussef na TV, onde o presidente Lula se despede da presidência e "entrega" o país à sua escolhida. Apreciem e reflitam. O título, emblemático, chama-se "O donatário":

"O presidente Lula se despedindo da Presidência, no programa eleitoral de Dilma Rousseff, com a música "entrego em suas mãos o meu povo" me lembrou o pior Brasil. O Brasil dos donatários, das capitanias hereditárias.

Como se não fosse suficiente, ainda há o discurso que infantiliza o povo brasileiro com essa história de pai e mãe do povo.

Desde "Coronelismo, enxada e voto", de Victor Nunes Leal, o Brasil conhece bem esse seu pior lado. O do patrimonialismo brasileiro, do qual nasceram outros defeitos: o populismo, o paternalismo, o clientelismo.

Com a manipulação das massas, os donatários do Brasil mantêm o poder e o entregam aos seus herdeiros. Além do "deixo em suas mãos", há ainda a ameaça continuísta implícita: "Mas só deixo porque sei que vais continuar o que eu fiz." Como se Lula pudesse decidir não passar a Presidência à pessoa que for eleita este ano.

Ninguém duvida que apelos emocionais funcionam em campanha eleitoral. Mas não garantem eleição.

Difícil esquecer até hoje o contagiante "Lula lá, nasce uma estrela, Lula lá". E ele perdeu aquela eleição. São muitas as razões do voto e a história eleitoral brasileira é curta demais para que sejam traçadas leis gerais. Mas espera-se que ela não se explique pelo retrocesso, por essa visita ao passado.

A economia é decisiva na maioria das eleições, mas nem sempre. A economia americana estava num dos seus melhores momentos ao final do governo Bill Clinton e mesmo assim Al Gore perdeu. É bem verdade que Al Gore quis distância de Clinton por causa do escândalo Monica Levinsky.

Se por acaso o então presidente democrata fizesse uma campanha paternalista, cantando que entregava o povo americano nas mãos de Gore — como se fosse sua propriedade — certamente causaria rejeição ainda maior. Lá, eles não acham que eleitores passam de mão em mão como uma massa sem vontade própria.

Nem mesmo ocorreria a um presidente decidir pelo partido quem deve concorrer à sua sucessão, porque existe o saudável ritual das primárias em que os candidatos a candidatos enfrentam o desafio de convencer seus próprios militantes.

Aqui, nem governo nem oposição escolhem postulantes de forma transparente.

O Brasil está crescendo forte, a inflação está em queda — foi zero em julho — o crédito se expandindo, o consumo aumentando, o desemprego caindo. Alguns números são mais elevados por causa da base de comparação, mas há crescimento de fato.

A crise de 2008/2009 derrubou a economia e, da perspectiva da campanha governista no Brasil, a recuperação está ocorrendo na hora exata para ajudar o governo na campanha. Todos esses fatores são mais poderosos na definição do voto do que apelos populistas. É a sensação de conforto econômico que fortalece a campanha da continuidade."

Na onda mistificadora na qual todos no governo estão empenhados, o Ministério da Fazenda divulgou ontem um pretenso estudo para provar que a atuação do BNDES garantiu que o país evitasse uma recessão de 3,2% no ano passado e sustentou 4 pontos percentuais do crescimento deste ano.

A História econômica recente do Brasil mostra que o crescimento do PIB tem duas características: não sustenta taxas altas por muito tempo; não tem grandes quedas. No ano passado, vários países do mundo tiveram quedas grandes do PIB como os 7% da Rússia e do México. O Brasil ficou no -0,2%. Pela visão do ministro Guido Mantega, foi a ação do BNDES. Mas na crise da Ásia todos os países que tiveram colapsos cambiais enfrentaram recessões enormes: Coréia, -7%; Indonésia, -17%. O Brasil não teve resultado negativo. E não teve esse jorrar de dinheiro do Tesouro para as empresas brasileiras através do BNDES. Segundo Mantega, esses empréstimos subsidiados com dinheiro do Tesouro garantiram 7% de crescimento. Esse número é tão científico quanto o ocultismo.

Ninguém discute a importância do BNDES na economia brasileira, é claro que ele é importante. O problema são os desvios que reforçam o patrimonialismo: a ideia de que o Tesouro pode ser apropriado por alguns. Reduzir o custo de capital, incentivar empresas, estimular a economia o banco sempre fez. Só nos seus piores momentos, como na época dos militares no poder nos anos 1970, escolheu donatários do dinheiro público, concentrou recursos nessa proporção, transferiu impostos para alguns poucos como está fazendo agora.

É por isso que os grandes empresários brasileiros estão tão contentes e querem mais do mesmo. O presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, na série de ideias obsoletas que exibiu na entrevista que concedeu esta semana ao “Valor Econômico”, disse que quer não um, mas três BNDESs. Pode-se imaginar que está sendo sincero. Pediu que o governo “feche o país por um tempo.” Pode-se imaginar por quê. Com a economia fechada, funciona melhor o sistema das capitanias hereditárias, do mercado interno entregue como donataria para alguns proprietários. Há 20 anos o Brasil começou a abrir a economia, por isso já se pensava, a esta altura, que ninguém teria mais a coragem de fazer um pedido como esse. A crise de 2008/2009 e as eleições de 2010 viraram uma espécie de licença para propor qualquer velharia: dos subsídios ao fechamento do país. A campanha governista nas eleições está fortalecendo a ideia de que o país não tem um líder, nem um presidente; tem um dono. Um donatário.

Fonte: Blog de Miriam Leitão

O donatário

A jornalista Miriam Leitão escreve, hoje, em O Globo, um artigo permeado de muita lucidez, ao comentar passagem do programa eleitoral de Dilma Roussef na TV, onde o presidente Lula se despede da presidência e "entrega" o país à sua escolhida. Apreciem e reflitam. O título, emblemático, chama-se "O donatário":

"O presidente Lula se despedindo da Presidência, no programa eleitoral de Dilma Rousseff, com a música "entrego em suas mãos o meu povo" me lembrou o pior Brasil. O Brasil dos donatários, das capitanias hereditárias.

Como se não fosse suficiente, ainda há o discurso que infantiliza o povo brasileiro com essa história de pai e mãe do povo.

Desde "Coronelismo, enxada e voto", de Victor Nunes Leal, o Brasil conhece bem esse seu pior lado. O do patrimonialismo brasileiro, do qual nasceram outros defeitos: o populismo, o paternalismo, o clientelismo.

Com a manipulação das massas, os donatários do Brasil mantêm o poder e o entregam aos seus herdeiros. Além do "deixo em suas mãos", há ainda a ameaça continuísta implícita: "Mas só deixo porque sei que vais continuar o que eu fiz." Como se Lula pudesse decidir não passar a Presidência à pessoa que for eleita este ano.

Ninguém duvida que apelos emocionais funcionam em campanha eleitoral. Mas não garantem eleição.

Difícil esquecer até hoje o contagiante "Lula lá, nasce uma estrela, Lula lá". E ele perdeu aquela eleição. São muitas as razões do voto e a história eleitoral brasileira é curta demais para que sejam traçadas leis gerais. Mas espera-se que ela não se explique pelo retrocesso, por essa visita ao passado.

A economia é decisiva na maioria das eleições, mas nem sempre. A economia americana estava num dos seus melhores momentos ao final do governo Bill Clinton e mesmo assim Al Gore perdeu. É bem verdade que Al Gore quis distância de Clinton por causa do escândalo Monica Levinsky.

Se por acaso o então presidente democrata fizesse uma campanha paternalista, cantando que entregava o povo americano nas mãos de Gore — como se fosse sua propriedade — certamente causaria rejeição ainda maior. Lá, eles não acham que eleitores passam de mão em mão como uma massa sem vontade própria.

Nem mesmo ocorreria a um presidente decidir pelo partido quem deve concorrer à sua sucessão, porque existe o saudável ritual das primárias em que os candidatos a candidatos enfrentam o desafio de convencer seus próprios militantes.

Aqui, nem governo nem oposição escolhem postulantes de forma transparente.

O Brasil está crescendo forte, a inflação está em queda — foi zero em julho — o crédito se expandindo, o consumo aumentando, o desemprego caindo. Alguns números são mais elevados por causa da base de comparação, mas há crescimento de fato.

A crise de 2008/2009 derrubou a economia e, da perspectiva da campanha governista no Brasil, a recuperação está ocorrendo na hora exata para ajudar o governo na campanha. Todos esses fatores são mais poderosos na definição do voto do que apelos populistas. É a sensação de conforto econômico que fortalece a campanha da continuidade."

Fonte: Blog do Noblat

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Simpósio discute fomento à pesquisa e produção de etanol gaúcho

No Simpósio Estadual de Agroenergia que acontece em Pelotas, RS, o foco das discussões gira em torno do fomento à pesquisa e produção de etanol. Ontem, 11, foram realizados dois paineis. O primeiro enfocou o fomento à pesquisa com biocombustíveis, através de palestras apresentadas pelo coordenador do Programa de Biocombustíveis do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Rafael Silva Menezes e do diretor Científico da Fapergs, Oswaldo Luiz de Moraes. Já o segundo painel debateu o melhoramento genético de cana-de-açúcar para a região de clima temperado, reunindo dois palestrantes - Ernesto Raúl Chavann, da Argentina e João Carlos Bespalhok Filho, da UFPR/Ridesa.

Em relação ao fomento à pesquisa com biocombustíveis, Rafael Menezes informou que esse ano, o MCT já investiu 107 milhões de reais em pesquisas com agroenergia. Segundo ele, o Brasil é o maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do mundo, e o cultivo de cana ocupa uma área de oito milhões de hectares. Em sua palestra, ele fez uma apresentação da evolução da demanda nacional de álcool, relembrando que em 1979, foi lançado o primeiro carro a álcool do país e em 2003, aconteceu o lançamento de carros que utilizam atecnologia flex fuel. “Atualmente, existem 10 milhões de carros que utilizam esta tecnologia no Brasil, onde se fabricam 29 modelos diferentes”, informou Rafael.

Oswaldo de Moraes, da Fapergs, por sua vez, asseverou que serão destinados quatro milhões para o projeto envolvendo Finep e Fapergs, reunindo uma rede de pesquisadores que já desenvolvem projetos junto a outras instituições. “Esse é um projeto estruturante de agroenergia no Rio Grande do Sul, através de produção de biodiesel, do desenvolvimento de tecnologias para o aproveitamento dos co-produtos e caracterização e controle de qualidade dos insumos-produtos”, explicou. Segundo ele, o projeto objetiva disponibilizar, de forma sistemática e integrada, um banco de dados dos parâmetros, produtos agronômicos e industriais, reunindo diversas informações relacionadas ao setor.

“Pretendemos, ainda, estabelecer uma comunidade local qualificada para sedimentação de uma interface com as iniciativas mundiais no campo da agroenergia, pois acreditamos que com uma base de inteligência local, o Estado poderá acompanhar os avanços tecnológicos e estratégicos que ocorrem no mundo e incorporá-lo à sua base de produção”, enfatizou o diretor da Fapers. Ele disse ainda que o projeto resultará na criação de uma rede de informação e de inteligência em agroenergia no Estado. Oswaldo encerrou o primeiro painel dizendo que as mudanças no uso da terra podem acabar por impactar negativamente a sustentabilidade da produção de biodiesel. “Os biocombustíveis provavelmente não conseguirão sozinhos reduzir a dependência de combustíveis fósseis”, concluiu.

Em relação ao melhoramento, o coordenador do Programa de Melhoramento de Cana-de-açúcar na Estação Experimental Obispo – Colombres, Ernesto Raúl Chavann, explica que a pesquisa se concentra em aumentar a produtividade e os rendimentos das lavouras tucumanas. “A área plantada em cana-de-açúcar na Argentina ocupa uma área de 300 mil hectares, sendo que as províncias do noroeste, Tucumán, Jujuy e Salta, respondem por mais de 90% destas plantações”, diz. O coordenador falou detalhadamente sobre o trabalho que vem sendo realizado pela Estação, inclusive com a apresentação das três novas variedades de cana liberadas para comercialização (Tucumán – TUC 95-37, TUC 97-8 e TUC 89-28).

Conforme Bespalhok Filho, da UFPR, o trabalho de melhoramento genético da cana leva de 12 a 15 anos para ser efetivado. Os especialistas buscam o ideótipo de cana para clima frio. “A variedade deve ter maturação precoce, crescimento rápido, resistência e doenças e porte adequado para colheita mecânica”, explica.

Fonte: Simpósio Estadual de Agroenergia

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Eleições 2010 - Entrevista de José Serra

Reproduzo, abaixo, postagem do Blog do Políbio Braga, que julguei merecedora de reflexão:
  
Entrevista - Serra ampliará as conquistas da sociedade industrial, repartindo resultados.

Serra ampliará as conquistas da sociedade industrial, repartindo resultados Roque Callage, doutor em Ciências Sociais (Antropologia, Ciência Política e Sociologia).

Pela primeira vez nós temos um presidente que se empenha de modo vigoroso na campanha do seu candidato. É isto que causa tanta estranheza na oposição e tanta euforia na situação ?

Na Republica de 46, Vargas sinalizou amplamente que apoiava Dutra - que era um poste - e ele se elegeu por isto. O que ocorre agora é afronta às leis do País.A estranheza da oposição, decorre de sua incompreensão básica de como apontar esta ilegalidade para compreensão da população iletrada ou sub-letrada.

Até que ponto é bom ou ruim para a democracia, que presidentes do mesmo Partido prossigam dominando o governo por vários períodos ?

Não há mal nenhum quando governos parlamentaristas ficam vários anos até terem votos de desconfiança, até mesmo quando Roosevelt teve confiança da população por quatro mandatos.Mas isto é muito diferente, porque aí há vigilância constitucional.

O peso político de um presidente altamente popular, como é o caso de Lula, pode mesmo ser decisivo na eleição. Há limite de transferência ?

"O fato é que a oposição até agora não passou do percentual entre 35-37% semelhantes à ultima eleição (decididos a votar ) e Dilma anda em volta disto ( que decidiram votar nela). O resto é especulação."

Dá para dizer que Dilma e Serra são fiéis à sua origem e implementarão programas de esquerda no governo ?

Serra, sem dúvida avançou bem mais na compreensão de mundo a partir dos seus valores iniciais. Isto significaria uma esquerda pós-industrial,ambiental e laboratorial, ampliando conquistas da sociedade industrial, repartindo resultados.Dilma representa setores tradicionais corporativistas do antigo sindicalismo industrial e do antigo desenvolvimentismo de 1930, resistentes a enxergar o mundo pós-1990.

Os trabalhadores e os empresários devem temer algum deles e por que razão ?

Os trabalhadores de conhecimentos técnicos de segundo grau completo, os de conhecimento universitário e os empresários industriais poli-especializados, interessados em ampliar especializações e dividir resultados da produção, devem ver com preocupação uma eventual vitória de Dilma. Seria uma rota programática errada tanto para o que se chama de novo desenvolvimentismo pós-keynesiano, como para a revolução de capital humano que está transcendendo os limites tradicionais de luta de classes.