domingo, 24 de outubro de 2010

Carta Aberta de FHC para Lula

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) divulgou carta aberta na sexta-feira (22) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O texto contesta muitas das afirmações do futuro ex-presidente durante a atual campanha eleitoral, restabelecendo a verdade dos fatos. Leia a carta, abaixo, na integra:


Carta aberta de Fernando Henrique Cardoso para Lula

"O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária, distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas está o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse "o Estado sou eu". Lula dirá, o Brasil sou eu! Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.

Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?

A estratégia do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo? Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.

Na campanha haverá um mote - o governo do PSDB foi "neoliberal" - e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora os dados... O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas, Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da lei de responsabilidade fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobras, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal.

Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões e, junto com a Caixa Econômica, libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado.

Esqueceu-se dos investimentos do programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao País. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no país.

Esqueceu-se de que o país pagou um custo alto por anos de "bravata" do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI - com aval de Lula, diga-se - para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.

Os exemplos são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto "neoliberalismo" peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras, citado por Adriano Pires, no Brasil Econômico de 13/1/2010.
"Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobras produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois, produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela". (José Eduardo Dutra)

O outro alvo da distorção petista refere-se à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o Real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002, houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.

Por fim, os programas de transferência direta de renda (hoje Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram em um município (Campinas) e no Distrito Federal, estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outras 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando em uma só bolsa os programas anteriores.

É mentira, portanto, dizer que o PSDB "não olhou para o social". Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel à realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa "Toda Criança na Escola" trouxe para o ensino fundamental quase 100% das crianças de sete a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje a mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996, eram apenas 300 mil).

Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer."

Fernando Henrique Cardoso"

3 comentários:

Prof.Ms. João Paulo de Oliveira disse...

Prezado engenheiro Vulmar Leite!
Muito oportuna sua iniciativa em publicar no seu espaço cibernético a irretocável missiva escrita pelo Estadista Fernando Henrique Cardoso!
Infelizmente uma parcela significativa dos eleitores da candidata, que concorre com o também Estadista José Serra, não terão acesso a esta epístola ou mais desalentador ainda, mesmo que tivessem não saberiam compreender o que leram [sic].
Independentemente do que apreogam as pesquisas eleitorias, que perderam a credibilidade, após os resultados do 1º turno, está é uma semana decisiva, para com muito racionalismo e pautado pelas normas da democracia, deixar patente aos eleitores o que representa ter este(a) ou aquele(a) candidato(a) como Timoneiro Mor.
Calorosas saudações democráticas e muito esperançosas!
Até breve...
Prof Ms João Paulo de Oliveira
Diadema-SP

Alexandre Pinheiro disse...

Mentem e continuam mentindo os tucanos. Depois de dizer durante dez anos ser o criador dos genéricos, Serra desmentiu-se no Jornal Nacional, em rede nacional, atribuindo a um parlamentar de "outro partido" a iniciativa do projeto. Ele não disse, mas eu digo o nome do parlamentar e o partido: Eduardo Jorge, do PT à época, através do PL2022/91 (pesquisem), e depois foi para o PV. Não é aquele Eduardo Jorge que se faz de vítima no escândalo da quebra de sigilo na Receita que foi feita em favor do Aécio, portanto briga de tucanos. Voltando aos genéricos, Itamar decretou e assinou junto com o Jamil Haddad o decreto em 1993 que FHC revogou e criou outro para sequestrar a paternidade do projeto, assim como sequestrou a paternidade do Real. Foi Itamar quem implantou o Real. Do mesmo modo, o Bolsa Família que foi sim feito pelo Lula. O que não foi feito pelo Lula foi o Bolsa-escola que tem seu embrião no projeto de Renda Mínima do Senador Suplicy, também do PT, em 1991. O Prefeito de Campinas do PSDB, José Roberto Magalhães, criou o primeiro Bolsa em 94 e em 95 o Cristóvão Buarque em Brasília. O do Cristóvão recebeu até prêmios internacionais. FHC realmente levou para a esfera Nacional o projeto e alguns outros, mas eram muitíssimo tímidos em relação ao de Cristóvão, mas Lula veio e aperfeiçoou e juntou tudo no Bolsa-Família.
Sou um simples supletivista de 2° grau, e os intelectuais de plantão dirão: como pode contestar o doutor FHC?! Então leiam o que diz este outro DOUTOR, colega e amigo de FHC, Serra e dona Ruth: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=51886 é só conferir!
Abraço.

Anônimo disse...

Vulmar,

Creio ser por isto que ninguém posta nada neste blog. Cadê meu comentário? Não agradou ao Doutor FHC? Tenho que ter carteirinha do PSDB, DEM, TFP, UDR, Opus Dei?