‘Privatização está de volta à agenda do País’
Glauber Gonçalves, de O Estado de
S.Paulo
RIO - Em contraste com o que o PT
defendia nos anos 90, o governo Dilma privatizou ontem três dos mais
importantes aeroportos do País. Para o economista Luiz Carlos Mendonça de
Barros, o leilão nada mais é do que o retorno das privatizações no País, política
que foi alvo de críticas petistas na gestão de FHC e nas campanhas
presidenciais que se seguiram.
Presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ministro das Comunicações no
governo Fernando Henrique, ele critica o modelo adotado agora, em especial a
manutenção da Infraero no capital dos aeroportos concedidos.
Em entrevista ao Estado,
Mendonça de Barros rebate o argumento do governo de que a presença da estatal
tem o objetivo de obter dividendos para investir nos outros aeroportos. Para
ele, esses recursos poderiam vir do valor pago pelas concessionárias ao
governo, que seriam maiores se a estatal não permanecesse no negócio.
A seguir, os principais trechos da
entrevista.
Como o senhor vê o modelo adotado
para a concessão dos aeroportos?
Dada a posição ideológica do PT
contra as privatizações, o modelo me parece razoável e eficiente. Não é meu
modelo ideal, mas o mais importante desse leilão é que ele marca a volta da
privatização como instrumento legítimo e eficiente para aumentar os
investimentos na infraestrutura. Depois de mais de oito anos sistematicamente
colocado no limbo por questões políticas e ideológicas, a parceria entre
governo, via agências reguladoras, e setor privado volta à agenda do País.
No que esse modelo difere daqueles do
governo FHC?
A menos da participação da Infraero -
uma verdadeira jabuticaba criada pelo PT para tentar diferenciar o modelo de
agora dos adotados no período FHC -, a lógica intrínseca dos contratos de
concessão é a mesma: um grupo privado, explorando os serviços comercialmente
segundo seus objetivos de eficiência e lucratividade, mas balizado por regras
estabelecidas pela Anac. Na sua função de agência reguladora é ela que
estabelece as regras de defesa do cidadão consumidor e fiscaliza a qualidade e
economicidade dos serviços prestados.
O apetite dos investidores está maior
agora que naquela época?
Sim, pois o Brasil é hoje uma
economia mais estável - inclusive em termos políticos pela nova postura do PT -
e com uma economia que encontrou nova dinâmica a partir do surgimento da China
como grande potência econômica. Nossas reservas externas são substanciais, o
que faz com que nossa moeda seja uma das mais fortes do mundo emergente. Além
disso, a crise nos Estados Unidos e na Europa faz dos países como o Brasil um
dos polos mais dinâmicos na próxima década.
Na sua avaliação, a Infraero deveria
continuar com a fatia de 49% nos aeroportos concedidos?
Não acho esta questão relevante,
embora para mim ela não faça sentido, pois é a Anac que tem a responsabilidade
de regular e fiscalizar esse setor. O argumento de usar parte dos lucros nos
aeroportos privatizados para financiar suas atividades nos aeroportos
deficitários não faz sentido, pois estes recursos deveriam vir do pagamento das
concessões. É preciso entender que os preços pagos pelo setor privado nos
leilões já levam em conta que apenas 51% dos lucros serão apropriados por eles.
Se não houvesse esta imposição, os ganhos seriam mais elevados via maior
pagamento pelas concessões e mais que compensariam financeiramente a não
participação da Infraero.
A vitória dos fundos de pensão de
estatais em Guarulhos significa que o governo continuará com forte influência
sobre a gestão desse aeroporto?
Os fundos de pensão públicos são
grandes investidores institucionais no Brasil e, principalmente agora que os
juros reais no Brasil estão se reduzindo, têm todo o direito de buscar
alternativas de investimento.
2 comentários:
Meu caro amigo, não sejamos tolos, sabemos muito bem a diferença de vender para concessão. ABRX
Gostaria que vc falasse do protecionismo que está mostrando as garras no governo Dilma...tenho medo de que, em breve, não tenhamos bons vinhos importados para beber, apenas nacionais, com altos preços. E isso já está começando com os carros importados, conforme apurou a Revista Época. Medo e uma pena, a única coisa boa que o Collor fez em seu governo foi abrir os mercados e proporcionar a vinda dos importados e estimular a competição das empresas brasileiras, que se obrigaram a melhorar a qualidade para concorrer. Lola
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