[Mudança da conjuntura econômica e falta de interesse dos convidados, por carta, a participar emperram projeto.
Anunciado em agosto do ano passado, às vésperas das eleições municipais, o plano do governo para qualificar profissionalmente beneficiários do Bolsa-Família - e facilitar seu ingresso no mercado de trabalho - ainda não decolou. O pior para o governo, porém, é que os entraves na pista de decolagem aumentam. O mais visível deles? A mudança da conjuntura econômica - idealizado quando a economia efervescia, o plano de qualificação enfrenta agora um cenário desfavorável, de encolhimento do mercado de trabalho. Mas não é só. As autoridades foram surpreendidas também pelo desinteresse das pessoas convidadas para os cursos profissionalizantes.No ano passado, o Ministério do Desenvolvimento Social selecionou 370 mil pessoas - com mais de 18 anos e a 4ª série do ensino fundamental concluída - e enviou-lhes uma cartinha. Nela apresentava o chamado Plano Setorial de Qualificação e as convidava a participar. O retorno foi fraco: só 5% mostraram interesse. Em números absolutos, foram 18.500 pessoas - muito aquém da proposta do governo de qualificar, só neste ano, 200 mil beneficiários, nos setores de construção civil e turismo.
A meta de 200 mil pessoas representa apenas a primeira parte do plano. No total, estima-se que 1,8 milhão de atendidos pelo Bolsa-Família reúnem condições para serem qualificados.
O governo chegou a esse número a partir da análise dos dados contidos no cada vez mais encorpado cadastro único com os nomes de brasileiros que recebem benefícios sociais.
Em Brasília, na sede do ministério, o titular da Secretaria de Articulação Institucional e Parcerias do Desenvolvimento Social, Ronaldo Coutinho Nogueira, observa que o baixo retorno dos convites enviados pelo governo não significa desinteresse. Ele acredita que boa parte dos convidados silenciou devido ao temor de perder o benefício do Bolsa-Família só pelo fato de participarem dos cursos de qualificação.
O secretário assinala ainda que, embora baixo, o retorno de 5% está acima das malas-diretas comuns, enviadas por empresas interessadas em vender produtos. "A média desse tipo de mensagem é de 2%", afirma.
Ainda não está definido quando começam as aulas. O governo corre para que seja em março. No esforço para conseguir atrair as atenções dos beneficiários e preencher as vagas oferecidas nos cursos, o pessoal do ministério tem mobilizado o maior número possível de funcionários dos centros de referência e assistência social das 12 regiões metropolitanas do País nas quais serão oferecidos os cursos neste ano.
Esses funcionários visitam as casas dos potenciais candidatos, para explicar-lhes que não vão perder o benefício se fizerem o curso. Também asseguram que, mesmo conseguindo emprego formal após a qualificação, eles poderão ficar mais dois anos sob o guarda-chuva do Bolsa-Família. Esse é o tempo considerado necessário para consolidação da nova situação econômica familiar.
E quanto à crise econômica? O pessoal do ministério não a teme. "O presidente Lula tem reiterado que não faltarão recursos para o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, que será uma enorme frente de obras, com a construção de estradas, ferrovias, portos, hidrelétricas, casas populares", diz Nogueira. "Há lugares em que a escassez de mão de obra qualificada já é notada."
A proposta do PAC é, de fato, ampla. Mas ele também enfrenta dificuldade na decolagem. De acordo com levantamento feito pela repórter Renée Pereira e divulgado há pouco pelo Estado, 62% dos empreendimentos previstos no programa estão com o cronograma atrasado. Seus problemas variam de entraves ambientais a questões financeiras.
Essa conjunção de fatores pode resultar numa bolha de frustração, com pessoas treinadas, mas sem trabalhar, nem concretizar aquele que é, segundo pesquisas do ministério, o maior sonho dos beneficiários do Bolsa-Família: a carteira assinada.
Mesmo considerando a possibilidade do mercado de trabalho reaquecer nos próximos meses, as chances das pessoas recém-qualificadas serão poucas. Especialistas do setor de construção civil afirmam que, no caso de retomada, os primeiros chamados serão os profissionais mais experientes.]
Fonte: O Estado de São Paulo – Roldão Arruda
Anunciado em agosto do ano passado, às vésperas das eleições municipais, o plano do governo para qualificar profissionalmente beneficiários do Bolsa-Família - e facilitar seu ingresso no mercado de trabalho - ainda não decolou. O pior para o governo, porém, é que os entraves na pista de decolagem aumentam. O mais visível deles? A mudança da conjuntura econômica - idealizado quando a economia efervescia, o plano de qualificação enfrenta agora um cenário desfavorável, de encolhimento do mercado de trabalho. Mas não é só. As autoridades foram surpreendidas também pelo desinteresse das pessoas convidadas para os cursos profissionalizantes.No ano passado, o Ministério do Desenvolvimento Social selecionou 370 mil pessoas - com mais de 18 anos e a 4ª série do ensino fundamental concluída - e enviou-lhes uma cartinha. Nela apresentava o chamado Plano Setorial de Qualificação e as convidava a participar. O retorno foi fraco: só 5% mostraram interesse. Em números absolutos, foram 18.500 pessoas - muito aquém da proposta do governo de qualificar, só neste ano, 200 mil beneficiários, nos setores de construção civil e turismo.
A meta de 200 mil pessoas representa apenas a primeira parte do plano. No total, estima-se que 1,8 milhão de atendidos pelo Bolsa-Família reúnem condições para serem qualificados.
O governo chegou a esse número a partir da análise dos dados contidos no cada vez mais encorpado cadastro único com os nomes de brasileiros que recebem benefícios sociais.
Em Brasília, na sede do ministério, o titular da Secretaria de Articulação Institucional e Parcerias do Desenvolvimento Social, Ronaldo Coutinho Nogueira, observa que o baixo retorno dos convites enviados pelo governo não significa desinteresse. Ele acredita que boa parte dos convidados silenciou devido ao temor de perder o benefício do Bolsa-Família só pelo fato de participarem dos cursos de qualificação.
O secretário assinala ainda que, embora baixo, o retorno de 5% está acima das malas-diretas comuns, enviadas por empresas interessadas em vender produtos. "A média desse tipo de mensagem é de 2%", afirma.
Ainda não está definido quando começam as aulas. O governo corre para que seja em março. No esforço para conseguir atrair as atenções dos beneficiários e preencher as vagas oferecidas nos cursos, o pessoal do ministério tem mobilizado o maior número possível de funcionários dos centros de referência e assistência social das 12 regiões metropolitanas do País nas quais serão oferecidos os cursos neste ano.
Esses funcionários visitam as casas dos potenciais candidatos, para explicar-lhes que não vão perder o benefício se fizerem o curso. Também asseguram que, mesmo conseguindo emprego formal após a qualificação, eles poderão ficar mais dois anos sob o guarda-chuva do Bolsa-Família. Esse é o tempo considerado necessário para consolidação da nova situação econômica familiar.
E quanto à crise econômica? O pessoal do ministério não a teme. "O presidente Lula tem reiterado que não faltarão recursos para o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, que será uma enorme frente de obras, com a construção de estradas, ferrovias, portos, hidrelétricas, casas populares", diz Nogueira. "Há lugares em que a escassez de mão de obra qualificada já é notada."
A proposta do PAC é, de fato, ampla. Mas ele também enfrenta dificuldade na decolagem. De acordo com levantamento feito pela repórter Renée Pereira e divulgado há pouco pelo Estado, 62% dos empreendimentos previstos no programa estão com o cronograma atrasado. Seus problemas variam de entraves ambientais a questões financeiras.
Essa conjunção de fatores pode resultar numa bolha de frustração, com pessoas treinadas, mas sem trabalhar, nem concretizar aquele que é, segundo pesquisas do ministério, o maior sonho dos beneficiários do Bolsa-Família: a carteira assinada.
Mesmo considerando a possibilidade do mercado de trabalho reaquecer nos próximos meses, as chances das pessoas recém-qualificadas serão poucas. Especialistas do setor de construção civil afirmam que, no caso de retomada, os primeiros chamados serão os profissionais mais experientes.]
Fonte: O Estado de São Paulo – Roldão Arruda