terça-feira, 13 de setembro de 2011

AS LÁGRIMAS DA PROFESSORA

Corria o ano de 1992, em pleno clima das eleições municipais. Candidato a prefeito, cumpria uma jornada cívica de visitas aos estabelecimentos comerciais de Santiago, como primeira etapa de um processo de consultas e de apropriação de dados e informações para a construção do plano de governo da União Popular de Santiago.

Numa manhã, cheguei à papelaria do FESAN, Fundo Educacional de Santiago, mantenedor da FAFIS - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e fui recebido pela diretora da FAFIS, professora Ayda Bochi Brum. Fiquei surpreso com a cordial acolhida e de saber que aquela loja era um projeto do FESAN, implementado com o propósito de oferecer material escolar e didático aos alunos a preços reduzidos, além de ser, também, uma forma de arrecadar recursos para o Fundo. A surpresa maior, no entanto, foi o relato sobre a situação do ensino superior em Santiago, as dificuldades em manter o funcionamento da Instituição e os próprios cursos autorizados pelo de Ministério da Educação, além da insuficiência de apoio político, logístico e operacional à permanência e expansão do Ensino Superior na nossa terra.

Jamais vou esquecer o depoimento realista, sonhador e emocionado da professora Ayda: fartas lágrimas molharam o seu rosto. Tive convicção, naquele momento, de que conversava com uma cidadã que lutava bravamente, com perseverança e destemor, para que a nossa comunidade oportunizasse formação universitária aos jovens santiaguenses, cujos pais não podiam oferecer-lhes acesso aos cursos superiores em faculdades isoladas ou universidades existentes em outros municípios, mais distantes.

As lágrimas derramadas com espontaneidade e emoção do rosto da professora Ayda, transmitiam a certeza de que estava diante de uma mulher idealista, com sólida formação intelectual e cultural, com profundo conhecimento da realidade educacional brasileira e determinada a trabalhar para manter, diversificar e ampliar a oferta de vagas no ensino universitário, em Santiago.

Não preciso dizer que todas as impressões que tive sobre o seu caráter, integridade, espírito público, compromisso e comprometimento com a educação se confirmaram na plenitude, ao longo dos anos... Nada melhor que o tempo para confirmar nossos erros e acertos.

Eleito prefeito, não hesitei em apoiar, incondicionalmente, durante o mandato, todas as iniciativas da professora Ayda. Da decisão de integração ao modelo de universidade multi-campi nas Missões e Alto Uruguai, no processo de conquista formal da Universidade, e nos primeiros passos para implantação do Campus atual, eu estava ao seu lado e de suas equipes de trabalho, mobilizando esforços e alguns recursos do município, que eram muito escassos naqueles tempos, para viabilizar ações necessárias à consolidação e construção da Universidade.

Muitos anos depois, ao verificar, como cidadão e aluno, o estágio de desenvolvimento da URI - Campus de Santiago,  contabilizar o número de especialidades ofertadas, de profissionais graduados oriundos de todos os extratos econômicos e sociais e olhar pelo retrovisor a história de construção da URI, percebo o quanto foi importante e decisivo aquele momento na pequena papelaria situada na Rua General Canabarro. Hoje, tenho a absoluta certeza de que aquelas lágrimas vertidas pela professora Ayda se transformaram num imenso rio caudaloso de energia - a força motriz que lhe possibilitou mobilizar pessoas, instituições, materiais e recursos humanos para construir a URI-Campus de Santiago.

Hoje, quando obtive a confirmação, pelo Olívio, seu filho, de sua demissão da condição de docente da URI, minha memória instantaneamente voltou para o ambiente da papelaria do  FESAN. Desta vez, professora Ayda, as lágrimas são minhas! Sempre me emociono quando vejo, por qualquer razão, os nossos símbolos deixarem os campos de lutas... Agora é o maior de todos os símbolos da Educação de Santiago que deixa a instituição que teceu com os fios de ouro da tenacidade, da competência na gestão e do desvelo, se afastando da Universidade que criou, ainda em plena capacidade produtiva. Todavia, deixa grandioso legado de realizações para a comunidade de Santiago e Vale do Jaguari, em todos os campos do conhecimento, onde o mais valioso, sem dúvida, foi a formação de capital humano, materializado nos milhares de jovens e profissionais diplomados nos cursos de extensão, graduação e de pós–graduação ofertados pela URI.



Para uma dama sensível, generosa e uma profissional de talento excepcional, que foi além do horizonte em sua luta incansável pela Educação em Santiago e até nos confins do Brasil, meu carinho e admiração.

Um comentário:

joao p. robaino disse...

Faço minhas as suas belas palavras sobre a professora Ayda.Lhe agradeço pelo apoio a nossa Universidade e sua colaboração como prefeito municipal na época, pois foi por vocês que eu pude estudar aqui em Santiago.É lamentável a saída da professora. Santiago está perdendo suas identidades maiores. Precisamos de cidadãos e cidadãs como o sr. e a dona Ayda para retomar nossa tão querida Santiago.Nos sentimos abandonados.