Corria o ano de 1992, em pleno
clima das eleições municipais. Candidato a prefeito, cumpria uma jornada cívica
de visitas aos estabelecimentos comerciais de Santiago, como primeira etapa de
um processo de consultas e de apropriação de dados e informações para a
construção do plano de governo da União Popular de Santiago.
Numa manhã, cheguei à papelaria
do FESAN, Fundo Educacional de Santiago, mantenedor da FAFIS - Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras e fui recebido pela diretora da FAFIS, professora
Ayda Bochi Brum. Fiquei surpreso com a cordial acolhida e de saber que aquela
loja era um projeto do FESAN, implementado com o propósito de oferecer material
escolar e didático aos alunos a preços reduzidos, além de ser, também, uma
forma de arrecadar recursos para o Fundo. A surpresa maior, no entanto, foi o
relato sobre a situação do ensino superior em Santiago, as dificuldades em
manter o funcionamento da Instituição e os próprios cursos autorizados pelo de
Ministério da Educação, além da insuficiência de apoio político, logístico e
operacional à permanência e expansão do Ensino Superior na nossa terra.
Jamais vou esquecer o depoimento
realista, sonhador e emocionado da professora Ayda: fartas lágrimas molharam o
seu rosto. Tive convicção, naquele momento, de que conversava com uma cidadã
que lutava bravamente, com perseverança e destemor, para que a nossa comunidade oportunizasse formação universitária aos jovens santiaguenses,
cujos pais não podiam oferecer-lhes acesso aos cursos superiores em faculdades isoladas ou universidades existentes em outros municípios, mais
distantes.
As lágrimas derramadas com
espontaneidade e emoção do rosto da professora Ayda, transmitiam a certeza de
que estava diante de uma mulher idealista, com sólida formação intelectual e
cultural, com profundo conhecimento da realidade educacional brasileira e
determinada a trabalhar para manter, diversificar e ampliar a oferta de vagas
no ensino universitário, em Santiago.
Não preciso dizer que todas as
impressões que tive sobre o seu caráter, integridade, espírito público,
compromisso e comprometimento com a educação se confirmaram na plenitude, ao
longo dos anos... Nada melhor que o tempo para confirmar nossos erros e
acertos.
Eleito prefeito, não hesitei em
apoiar, incondicionalmente, durante o mandato, todas as
iniciativas da professora Ayda. Da decisão de integração ao modelo de
universidade multi-campi nas Missões e Alto Uruguai, no processo de conquista formal
da Universidade, e nos primeiros passos para implantação do Campus atual, eu
estava ao seu lado e de suas equipes de trabalho, mobilizando esforços e alguns recursos do
município, que eram muito escassos naqueles tempos, para viabilizar ações
necessárias à consolidação e construção da Universidade.
Muitos anos depois, ao verificar,
como cidadão e aluno, o estágio de desenvolvimento da URI - Campus de
Santiago, contabilizar o número de
especialidades ofertadas, de profissionais graduados oriundos de todos os extratos econômicos e sociais e olhar
pelo retrovisor a história de construção da URI, percebo o quanto foi importante
e decisivo aquele momento na pequena papelaria situada na Rua General
Canabarro. Hoje, tenho a absoluta certeza de que aquelas lágrimas vertidas pela professora Ayda se transformaram num imenso
rio caudaloso de energia - a força motriz que lhe possibilitou mobilizar
pessoas, instituições, materiais e recursos humanos para construir a URI-Campus
de Santiago.
Hoje, quando obtive a
confirmação, pelo Olívio, seu filho, de sua demissão da condição de docente da
URI, minha memória instantaneamente voltou para o ambiente da papelaria do FESAN. Desta vez, professora Ayda, as lágrimas
são minhas! Sempre me emociono quando vejo, por qualquer razão, os nossos
símbolos deixarem os campos de lutas... Agora é o maior de todos os símbolos da Educação de
Santiago que deixa a instituição que teceu com os fios de ouro da tenacidade,
da competência na gestão e do desvelo, se afastando da Universidade que criou,
ainda em plena capacidade produtiva. Todavia, deixa
grandioso legado de realizações para a comunidade de Santiago e Vale do
Jaguari, em todos os campos do conhecimento, onde o mais valioso, sem dúvida,
foi a formação de capital humano, materializado nos milhares de jovens e
profissionais diplomados nos cursos de extensão, graduação e de pós–graduação ofertados pela URI.
Para uma dama sensível, generosa
e uma profissional de talento excepcional, que foi além do horizonte em sua
luta incansável pela Educação em Santiago e até nos confins do Brasil, meu carinho e admiração.
Um comentário:
Faço minhas as suas belas palavras sobre a professora Ayda.Lhe agradeço pelo apoio a nossa Universidade e sua colaboração como prefeito municipal na época, pois foi por vocês que eu pude estudar aqui em Santiago.É lamentável a saída da professora. Santiago está perdendo suas identidades maiores. Precisamos de cidadãos e cidadãs como o sr. e a dona Ayda para retomar nossa tão querida Santiago.Nos sentimos abandonados.
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