Em Santiago foi decretado pelos donos da cidade que a verdade é uma só, a de que ninguém está autorizado a fazer críticas contra as pessoas, instituições, gestores públicos vinculados ao interesses dos lideres do partido dominante, exceto para desqualificar, desmerecer, desfazer, distorcer fatos, obras e realizações dos adversários e eventuais desafetos - nestes casos há licença compulsória. Também estão livres para tecer loas aos simpatizantes da causa, desde que estes sejam obedientes e não ofereçam riscos de pensar e assumir posições autônomas no futuro.
Nossos comunicadores, emissoras de rádio, jornais, e outros são constantemente compelidos a guardarem silêncio sobre eventuais mazelas e desmandos que são descobertos e que, em hipótese alguma, um órgão de imprensa que se preza deveria silenciar. Há, na "entourage" de pessoas designadas para exercer o papel de censores, aliás, são alunos e/ou discípulos daqueles que cumpriram, num passado não muito distante, esse triste papel durante os governos autoritários.
Na nossa boa e valorosa Santiago esse procedimento funesto e antidemocrático está profundamente enraizado nas atitudes e no comportamento de muitas pessoas. Há os que provocam o temor e há os que têm medo. Nesses quase quarenta anos de convívio com as pessoas desta terra, percebo que a cultura do medo não se modificou com o advento da democracia e com a explosão e acumulação do conhecimento universitário ocorrido nestes últimos 20 anos. Pelo contrário, agudizou-se o comportamento medroso, sofisticaram-se os métodos de coação e de controle das pessoas e, em consequência, o pensamento crítico, capaz de promover e induzir o tão sonhado desenvolvimento econômico e social, não prosperou em nosso meio.
As mesmas ideias, os mesmos discursos, os velhos problemas e dilemas permanecem vivos nas nossas rotinas. O nosso inconsciente coletivo, letárgico e apático, não foi capaz de estimular a criatividade dos nossos lideres e empreendedores para avançar na proposição e implementação de políticas públicas coerentes e concernentes com o fantástico avanço da humanidade em todos os campos. O conhecimento sobre a tecnologia moderna, artes, cultura, medicina, relações sociais e humanas, valores morais e éticos, que são de domínio e de acesso quase instantâneo por muitos, manejados com espírito crítico, autonomia de pensar e agir, e de forma articulada, são passíveis de gerar projetos e programas para proporcionar promover maiores e significativos ganhos de bem estar social ao nosso povo.
Estas reflexões que acabo de fazer são motivadas por fato que considero de extrema relevância para romper com esse ciclo vicioso que denomino, na falta de uma definição mais adequada, de cultura do medo, que é a orientação que está sendo imprimida pela Rádio Verdes Pampas, agora sob a direção dos santiaguenses Paulo Saciloto e Leudo Costa.
A determinação de Paulo e Leudo é exatamente no sentido de provocar a livre manifestação da população e estabelecer o contraditório no debate das questões de interesse público, sem aceitar ameaças e atitudes coercitivas de qualquer natureza, tais como, telefonemas impróprios, pagamento ou supressão de publicidade, pressão sobre anunciantes privados, privilégios ilegais, entre outras, o que constrange, deseduca, desinforma, avilta a infraestrutura de comunicação privada, postura autoritária e equivocada que retrai e entrava o processo de desenvolvimento da nossa terra.
A ousadia desses Dois Filhos de Santiago prenuncia novos e promissores tempos para Santiago, pela possibilidade de contribuírem com instrumento rádio, de abrangência regional, para o livre debate, despartidarizado, sem peias e tutelas, sem licença prévia de caudilhos ou chefetes políticos, sem dúvida vai acordar e despertar o inconsciente coletivo da nossa gente e ajudar a espancar, para sempre, do íntimo das pessoas, os sentimentos reprimidos que a impostura herdada dos regimes autoritários lhes impingiu por tantas décadas.
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