domingo, 3 de janeiro de 2010

Santiago, 126 anos


Não poderia deixar passar esta data sem fazer um registro sobre o significado de Santiago para a minha existência, até aqui.

Muito jovem, aos 25 anos, desembarquei em Santiago, em março de 1974, para cumprir uma missão como servidor público estadual, por opção, proteger o patrimônio natural - o solo, na época alvo de agressões decorrentes da expansão desenfreada da dita agricultura moderna, cuja tecnologia abusava da mobilização e desestruturação, além de envenená-lo com pesadas quantidades de pesticidas. Pasmem, a universidade assim ensinava seus diletos alunos.

Cumpri a missão. Em dois anos, graças ao mutirão comunitário, em que muitas pessoas e instituições públicas e privadas foram importantes, foi possível estabelecer mecanismos de combate à erosão, reduzindo significativamente a perdas dos solos e dessa forma, contribuir para a organização e sistematização das nossas lavouras de soja e trigo, então o carro-chefe da economia local.

O trabalho técnico foi interrompido pela circunstâncias políticas que imperavam na vida brasileira - o regime militar cerceava as liberdades democráticas e o surgimento de lideranças com iniciativa e autonomia para pensar e agir nos diferentes setores da vida econômica e social. Imperava o controle centralizado nas mãos dos detentores do poder político local, alinhado com a  cartilha da doutrina do governo autoritário.

O técnico da Secretaria da Agricultura, dedicado e comprometido com a defesa dos recursos naturais renováveis, cedeu lugar ao militante político, agora filiado ao MDB, o partido que fazia oposição à Arena, logo se opunha ao centralismo econômico, à censura aos meios de comunicação, ao cerceamento da liberdade de expressão cultural e artística, além dos casuísmos eleitorais para inverter maiorias.

Assim, nesse ambiente de tensão e pressão, consegui sobreviver profissionalmente em Santiago, mesmo tendo que permanecer num exílio temporário em Jaguari. Fui acolhido, por lideranças daquela comunidade, num momento pessoal particularmente muito difícil.
A luta pelas liberdades democráticas, eleições diretas e justiça social empolgaram-me durante as décadas de 70 e 80, quando vivenciei a instauração da nova república, das eleições diretas em todos os níveis e a plenitude democrática em nosso país.

Na nossa terra tive a honrosa missão de quebrar uma longa hegemonia política que se mantinha há mais de três décadas, que retornou depois de nós e que continua por mais de uma década.

Ainda não é o momento para avaliar as causas da retomada do poder pelo continuísmo conservador na nossa Santiago, acho que precisa mais tempo, para superar ressentimentos e mágoas entre companheiros da caminhada. No que me compete,  reconheço que cometi erros e avaliações equivocadas, mas não encontro, até aqui, nenhum desvio da linha que traçamos na campanha memorável de 1992.

Este pequeno histórico tem apenas o desejo de reafirmar meus compromissos com esta Terra, que se tornou a minha terra natal por adoção, que proporcionou oportunidades para desenvolver meus projetos de vida no campo profissional e pessoal, como nenhuma outra. Portanto, minha vinculação e amor a esta terra são definitivos.

Ao completar 126 de emancipação político-administrativa, não poderia deixar de congratular-me com todos os santiaguenses nascidos ou adotados por Santiago, que com trabalho e espírito público ajudam a construir uma comunidade próspera e feliz. Fiz a minha parte, sempre que meus conterrâneos me confiram tarefas. Nossa missão nunca termina, outros desafios precisam serem enfrentados para melhorar ainda mais  a qualidade de vida da nossa população. 

Imagem: Estação Ferroviária, 1996, foto de Alfredo Rodrigues 

3 comentários:

Edward de Souza disse...

Olá Vulmar, tudo bem com o amigo?
Acompanhei atentamente esse seu relato sobre Santiago, sua cidade por adoção e terra da minha querida amiga Nivia Andres. É a primeira foto que vejo de Santiago, cidade que ainda não tive o prazer de visitar.

Amigo Vulmar... Meu blog completa hoje um aninho de existência e estamos fazendo a festa. Aguardo sua presença lá para comer um pedacinho do delicioso bolo feito pela Cris, O.K.?

Um forte abraço, meu bom amigo!

Edward de Souza

Rita disse...

Nesse mesmo prédio que o senhor ilustra suas anotações, onde será a CASA DA CULTURA E DO CONHECECIMENTO"dois arquitetos da Prefa, ignorando "lei do restauro" de patrimonio tombado, empreenderam uma reforma, alterando o ambiente que asó poderia ter sido restaurado e nunca reformado. Moral, tudo embargado. Essa é a tal competência do PP cantada pelos blogues chapas brancas de Santiago?

Prof.Ms. João Paulo de Oliveira disse...

Prezado Vulmar Leite!
Que alvissareiro saber que suas ações tem como escopo a preservação do nosso combalido Meio Ambiente! Tenho convicção que sua gestão, como Mandatário Maior do Poder Executivo na cidade de Santiago-RS deixou marcas indeléveis e muito contribuiu para a melhoria da qualidade de vida dos valorosos cidadãos desta certamente hospitaleira cidade do seu Estado Meridional, que muito engrandece nossa amada Pátria!
Calorosas saudações paulistas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP