domingo, 3 de maio de 2009

O idiota latino-americano


Froilam Oliveira, em seu blog (www.froilamoliveira.blogspot.com), escreveu um post chamado "Artigo Interessante" em que fala sobre o famoso livro de Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina e o e-mail que recebeu, cujo texto contrapõe a visão "coitadística" do povo latino-americano explorado por espanhóis, portugueses, ingleses e americanos do norte, publicado no blog do economista Mailson da Nóbrega (www.arquivoetc.blogspot.com), com base na visão exposta na obra Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano.

Por coincidência, assim como Froilam, também estive com a obra de Galeano por empréstimo e com ela fiquei por mais de treze anos, até devolver ao seu verdadeiro dono pouco tempo atrás. E também por coincidência, justamente ontem me deparei com a entrevista feita ano passado pela Revista Época com um dos autores do livro Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, Carlos Alberto Montaner, escrito em parceria com o colombiano Plínio Apuleyo Mendoza e Álvaro Vargas Llosa (filho do escritor Mário Vargas Llosa), e que recentemente haviam lançado A Volta do Idiota, que foi inspirado pela ascensão de Chavez, Evo Morales e Rafael Correa ao poder, inclusive do nosso presidente, Lula. Segundo Montaner: "O Lula faz uma coisa parecida com o que fazia o PRI (Partido Revolucionário Institucional, do México) quando estava no poder: pratica uma política conservadora dentro do país e faz um jogo sujo na política externa", "Usa seu coração de esquerda no exterior. E, no Brasil, governa com o ventrículo direito".


Veja trechos da entrevista realizada pelo jornalista José Fucs com o escrito em 21 de abril de 2008:


ÉPOCA: Por que as ideias liberais não prosperam na América Latina?

Montaner - Desde o século XIX até agora, houve a influência de uma das mais perniciosas ideias, que é a crença de que a solução dos problemas econômicos vem do Estado. Isso é assim no Brasil, desde os positivistas e a criação da República, no México e nos demais países da região. Durante todo o século XX, os fascistas, os comunistas, a doutrina social da Igreja, os militares concordavam com esse ponto de vista. O pensamento liberal praticamente desapareceu na América Latina. A ideia de que alguém vai solucionar nossos problemas, que nossas dificuldades são consequência de alguém que tirou algo de nós e que depois o Estado virá para solucionar tudo, é poderosa. O populismo tem uma atração muito grande.


ÉPOCA - As pessoas parecem não acreditar na livre iniciativa...

Montaner - A livre iniciativa, o espírito empresarial, não faz parte da tradição latino-americana. Nossa tradição intelectual é antiempresarial, antimercado, contrária ao sucesso. Geralmente acredita-se que quem conseguiu se dar bem é porque tirou algo de alguém. Isso explica por que alguns povos que eram muito mais atrasados que a América Latina hoje têm um nível de desenvolvimento muito maior. Talvez isso esteja mudando, mas essa é uma batalha longa.


ÉPOCA - O senhor diz que isso explica a reação à globalização, vista como ameaça à cultura regional. E não é?

Montaner - A globalização é a intensificação dos laços internacionais nos terrenos econômico, tecnológico, financeiro. Graças a ela, 300 milhões de chineses e 250 milhões de indianos saíram da pobreza. Acreditar que a globalização é um fenômeno negativo é ir contra os fatos. Creio que esse discurso antiglobalização calcado na soberania nacional, na limitação da atuação nos chamados setores estratégicos a empresas estatais, é um disparate. O problema é que muita gente acredita nisso.


ÉPOCA - A globalização não está pasteurizando as culturas locais com base na cultura americana?

Montaner - A globalização é um símbolo da sociedade ocidental desde os tempos mais remotos. A cultura do poder dominante sempre exerce influência sobre as demais: a religião judaico-cristã, o direito romano, o mundo germânico. Há um processo permanente de mestiçagem. Ao longo do tempo, um centro de poder no mundo ocidental sempre cedeu lugar a outro. Foi assim com a Grécia, Roma, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Japão, China. Nada impede que um dia seja o Brasil. É só fazer as coisas certas.


Não está na hora dos cursos de história, sociologia, economia e outros incluirem como leitura obrigatória não só As Veias Abertas, mas também O Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano para enriquecer o debate de formação do nosso povo?

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