quinta-feira, 16 de maio de 2013

CHOQUE DE REALIDADE

Choque de realidade - JL - Jornal de Londrina
 16/05/2013  -  Décio Luiz Gazzoni 



"Entre abril e maio participei de cinco reuniões internacionais, em quatro continentes, tratando de agropecuária e energia. Eu deveria ficar feliz com as unânimes manifestações de admiração pelo agronegócio brasileiro, por vezes beirando a inveja, as quais poderiam ser sintetizadas em algo como: o Brasil é um paraíso para o agronegócio! Ou: como gostaríamos de ter um programa de biocombustíveis como vocês têm no Brasil!

Constrangidamente, nas preleções que efetuei, fui obrigado a reposicionar os fatos em seu contexto realista, em contraponto à imagem vendida ou à percepção havida por quem desconhece o agronegócio brasileiro, em toda a sua extensão. Dentro da porteira, e no que depende do produtor rural, o nosso agronegócio vai muito bem, obrigado. Entretanto, a produção poderia ser, quiçá, o dobro do que é. A exportação idem. Onde está o problema? Fora da porteira. É só transferir a soja, o milho ou as caixas de frutas para o caminhão e aí começa o inferno do agronegócio. Do conjunto do Custo Brasil (impostos altos, crédito curto, câmbio irrealista, burocracia excessiva etc.) a logística - armazenamento e transporte - é o grande óbice que, atualmente, impede nosso agronegócio de realizar seu potencial. Fretes caríssimos, estradas esburacadas, ferrovias insuficientes, aquavias inexistentes limitam o agronegócio, as divisas, os empregos e os alimentos que poderiam ser produzidos.

No caso do bioetanol, além desses dramas, uma política pública explícita de limitar o preço da gasolina, fazendo com que a Petrobras e o Tesouro Nacional arquem com os custos de importar petróleo, para manter o preço da gasolina artificialmente baixo, impediu a produção de 63 bilhões de litros de bioetanol, nos últimos quatro anos, que valeriam, na porta da usina, R$ 71 bilhões. E, de quebra, está arrasando com as finanças da Petrobras, outrora a maior empresa do Brasil e uma das maiores do mundo.

A ausência de investimentos em armazenamento e transporte e a política equivocada de compressão artificial de preços de combustíveis não prejudicam apenas os atores do agronegócio. Representam um pezão no freio do desenvolvimento brasileiro. Deu para entender duas das razões do pibinho dos últimos anos? "

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