Publicado no site http://www.claudiohumberto.com.br/, o artigo, abaixo, do jornalista Carlos Chagas, mostra que o discurso e a prática dos partidos no governo nem sempre caminham juntos.
SONHO DESFEITO
Por Carlos Chagas
Passando da micro para a macro-política, significa o quê a aprovação da MP dos Portos? Simplesmente a confirmação de que o governo do PT equivale em gênero, número e grau ao governo do PSDB. Companheiros e tucanos tornaram-se irmãos siameses quando se trata de entregar a economia do país ao controle da iniciativa privada, de preferência cerceando sempre um pouco mais os direitos do trabalhador. Desfez-se faz tempo o sonho de um modelo voltado para os interesses nacionais, trocado pelo pesadelo da supremacia de empresas e grupos econômicos cujo objetivo maior é o lucro, bem acima do desenvolvimento da nação.
Determinadas atividades precisam ser obrigatoriamente atribuição do Estado, quer dizer, do poder público, prerrogativa e decisão do conjunto de cidadãos que formam os governos. Assim, defesa nacional, segurança, educação e saúde públicas, além da infra-estrutura essencial, como ferrovias, rodovias, portos e aeroportos. Sem falar das riquezas do subsolo, patrimônio de todos. Mesmo quando não dão lucro. Essa, pelo menos, foi a mensagem que o PT passou a seus filiados, quando de sua fundação.
Claro que existem países onde o Estado, desde cedo, abriu mão ou nunca assumiu suas obrigações, em função da prevalência de grupos econômicos e até de indivíduos. Se quiserem, também, de uma ideologia aberta a quantos se encantem por ela, apesar de egoísta, malvada e criminosa.
No caso brasileiro, porém, o PT ganhou o governo por situar-se no extremo oposto do PSDB, cuja estratégia malogrou. O modelo de Fernando Henrique Cardoso fracassou para a maioria da população, exceção dos empresários,empreiteiros e bicões de toda espécie. Imaginava-se o retorno à experiência tentada por facções variadas, de Getúlio Vargas a João Goulart, dos generais-presidentes a Itamar Franco. A frustração começou quando o Lula, antes de empossado, escreveu a famigerada “Carta aos Brasileiros”, gazua que ensejou viagem de José Dirceu aos Estados Unidos, prometendo e comprometendo-se com o figurino dos poderosos. A contrapartida foi o assistencialismo, esmola concedida aos miseráveis, favorecido por um período de estabilidade econômica mundial que permitiu a integração de parte das massas ao mercado de consumo por conta da queda do desemprego. Mesmo assim, muita firula, muita propaganda, muita enganação, sem que os novos detentores do poder lembrassem seus projetos anteriores de redistribuição da riqueza.
Pois do governo Lula ao governo Dilma, o que mais se viu foi a acomodação aos postulados do neoliberalismo, com privatizações crescentes e atendimento sempre maior das exigências das elites. Jamais os bancos lucrarem tanto, para não falar dos empreiteiros que nem ao menos se preocuparam em repartir com seus trabalhadores ínfimas partes de seus ganhos.
Privatizaram o que faltava de ferrovias, rodovias, aeroportos, exploração de petróleo e minerais nobres, além de serviços de toda espécie. Faltavam os portos, já infiltrados por históricas concessões. Não faltam mais.
O problema é que as dificuldades econômicas aterrissaram no Brasil, depois de alguns anos de refrigério. Sendo assim, mais empurraram goela abaixo da nação as mesmas formas canhestras de antes. A culpa era do Estado, do poder público, gastador e mau gestor, quando na verdade os controles da política econômica aumentavam em favor do neoliberalismo.
Não se imagine que vão parar, nesse caminho sem volta. Por que não privatizar a polícia, a Previdência Social, as Forças Armadas, o Congresso e o Poder Judiciário? Se não funcionam, precisam ser substituídos por instituições capazes de gerar lucro. E não demora o dia em que os trabalhadores cederão lugar a robôs incapazes de pensar e de reivindicar.
A imagem já foi utilizada aqui, mas é oportuno repeti-la: o fantasma dos que não tem nada a ganhar, porque vem perdendo tudo, volta a rondar o planeta. |
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