sábado, 7 de junho de 2014

BOLSISTA NO EXTERIOR PÕE ESTUDO EM 2º PLANO E ADERE AO "TURISMO SEM FRONTEIRA"

O Programa Ciência Sem Fronteira, um dos melhores programas do Governo Federal, inegavelmente, não pode ser desvirtuado pela falta de fiscalização e controle das universidades brasileiras. O Governo fez a sua parte, cabe às universidades cumprirem a sua e os estudantes beneficiários serem orientados e conscientizados de que não podem perder a oportunidade histórica de obter qualificação profissional nas instituições estrangeiras, sem prejuízo de, também, participarem de atividades turísticas. A bolsa proporciona acesso ao conhecimento científico e tecnológico indispensável à carreira profissional e o turismo associado, também, é fundamental para vivenciar outras experiências e realidades socioeconômicas diferentes da nossa, que são importantes para a formação integral do jovem acadêmico. 

O que é desprezível é a visão estreita e equivocada de alguns em achar que toda e qualquer crítica feita pela mídia é de natureza partidária. A reportagem em pauta, para qualquer governo que se preze, deve ser vista como uma contribuição para o aperfeiçoamento do programa Ciência Sem Fronteiras, que é muito bom, mas que também está sujeito a distorções e falhas em sua execução, por falta de comprometimento dos beneficiários ou omissão de parceiros.

Execrar a mídia quando aponta erros ou falhas nas políticas públicas não ajuda aos governos que primam pela seriedade e transparência nas suas ações.

Leia o artigo na transcrição abaixo ou no link:

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2014-06-06/bolsista-no-exterior-poe-estudo-em-2-plano-e-adere-aoturismo-sem-fronteiras.html?fb_action_ids=672883979433082&fb_action_types=og.recommends

"Bolsista no exterior põe estudo em 2º plano e adere ao´Turismo sem Fronteiras´

Por Davi Lira e Ocimara Balmant - iG São Paulo

Um número cada vez maior de universitários aproveita o valor da verba bancada pelo Governo Federal, que chega a R$ 60 mil, cursa apenas duas disciplinas no semestre e usa boa parte do intercâmbio acadêmico para viajar pela Europa
iG Educação (Especial) - 2ª dia de reportagem: "TURISMO SEM FRONTEIRAS" (Thinkstock/Getty Images)

Bolsistas chegam a dizer que o CsF poderia ser chamado de ´Cerveja sem Fronteiras´

"É muito engraçada a fama que o estudante brasileiro tem aqui nos Estados Unidos. Todo mundo pensa que somos ricos: porque todos os bolsistas do Ciência sem Fronteiras [CsF] têm um Apple [notebook que pode custar até R$ 4,2 mil], um iPhone 5 [celular que vale R$ 3 mil], roupa de marca que compramos aqui e porque viajamos quase toda a semana para uma cidade diferente", diz um universitário que estuda nos EUA pelo programa do Governo Federal.



O jovem, que preferiu não se identificar, cita os benefícios gerados pela verba que o programa oferece ao candidato selecionado para estudar por até um ano e meio lá fora. O programa, que tem uma meta ousada de enviar 101 mil estudantes ao exterior até 2015 - em sua maioria alunos de graduação -, já mandou mais de 50 mil desde 2011. Cerca de 80% deles são universitários que ainda não finalizaram o curso superior. O custo total do programa é de mais de R$ 3 bilhões.

Universidades pleiteiam condução do programa Ciência sem FronteirasiG Educação (Especial) - 3ª dia de reportagens: "CENTRALIZAÇÃO SEM FRONTEIRAS"

Somando todos os auxílios, cada bolsista do programa custa, aproximadamente, R$ 60 mil por ano, Isso sem considerar o valor repassado diretamente à instituição de ensino pelo governo, o que isenta o estudante de qualquer despesa acadêmica. Pelo CsF, o aluno recebe verbas específicas para a viagem, acomodação, alimentação, compra de material didático e também recursos para aquisição de equipamentos eletrônicos, como computadores portáteis. 

Confira, em detalhes, o extrato ao qual o iG Educação teve acesso com o valor discriminado de todos os benefícios. Os valores podem variar a depender da localidade de cada bolsista, da época da viagem e do período de permanência: 


Reprodução/CNPq

Extrato com valor dos auxílios do programa repassado do bolsista mostra dimensão dos benefícios

"Retirando essas despesas de manutenção, ainda temos uma espécie de ´salário´ no valor de mais de R$ 20 mil. Essa é a quantia que utilizamos para o dia dia e para manter a vida social", enumera Breno Barcellos, 21 anos, estudante da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), que voltou do intercâmbio no Reino Unido em janeiro deste ano.

Tais benefícios, contudo, têm sido desvirtuados por um número cada vez maior de estudantes - não foi o caso de Barcellos. Esses alunos, ao perceberem a pouca supervisão de suas universidades no Brasil), matriculam-se em apenas duas disciplinas no semestre e se aventuram no "Turismo sem Fronteiras" - expressão que vem sendo utilizada pelos próprios estudantes.Arquivo pessoal
Barcellos, durante apresentação de produtos típicos brasileiros no Reino Unido. Ele critica o ´Turismo sem Fronteiras´: "É vergonhoso"

"Os bolsistas dos primeiros editais tinham um perfil mais responsável; agora, tem muita gente querendo fazer só farra. É vergonhoso. É o ´Turismo sem Fronteiras´ junto com o ´Cerveja sem Fronteiras´", conta Barcellos. Durante sua estadia no Reino Unido, o jovem trabalhou em um seção que auxiliava estudantes brasileiros enviados pelo programa e teve contato com vários bolsistas do País.

"A única coisa que todos sabiam era a proibição de viajar para o Brasil durante a vigência da bolsa. De resto, as pessoas viajavam pelo país onde estavam e pela Europa. Não se avisava a ninguém. O CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; uma das agências federais responsáveis pela coordenação do programa] não fazia nenhuma fiscalização", diz Barcellos.

Mochilão na Europa

Foi esse panorama que estimulou as aventuras de um jovem estudante bolsista do programa na Europa, que prefere não dar detalhes de identificação. Se as experiências na faculdade foram limitadas, o que viveu fora dela foi bem diferente. Administrando as duas disciplinas que cursava, o estudante conseguiu a cada semana viajar para várias cidades e países diferentes.Thinkstock/Getty Images


Mais livres das responsabilidades acadêmicas, alunos se aventuram em mochilões na Europa



Na França, foram mais de 16 cidades visitadas, do extremo norte ao extremo sul. Ele ainda visitou três cidades britânicas, a Holanda, três cidades espanholas, quatro italianas, além de outras localidades no norte do continente africano. As viagens eram tantas que não faltavam comentários bem humorados nas redes sociais de familiares e amigos no Brasil: "Aproveita bastante as viagens, mas também vai estudar rapaz".

Como há casos em que professores das universidades do exterior que recebem os brasileiros não fazem controle de presença, os alunos ficam atentos apenas à entrega de trabalhos e às avaliações no meio e no final do semestre. 

Tais cicunstâncias contribuem com a "popularização" do termo "Turismo sem Fronteiras". Os comentários - cada vez mais presentes na internet - feitos por colegas, conhecidos dos bolsistas e até usuários sem vínculo com o estudante do CsF são simples indicativos dessa "popularização". No microblog Twitter, por exemplo, não faltam críticas e chacotas ao "Turismo sem Fronteiras"."

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