terça-feira, 24 de junho de 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TÚNEL VERDE DA BR 287

A plantação de pinus ao longo da BR 287, na metade da década de 1970, tinha entre seus objetivos, além do aspecto paisagístico (de gosto discutível), repor a vegetação nativa, arbustiva e arbórea, removida para a construção da estrada e também funcionar como sinalização verde para o trecho, repleto de ondulações e curvas. As árvores foram implantadas em locais que supostamente não colocariam em risco o tráfego de veículos em qualquer situação, em conformidade com as normas emanadas do Código Nacional de Trânsito.

O que aconteceu depois do plantio?

1)  A espécie arbórea utilizada, embora exótica, se adaptou rapidamente ao meio e suas sementes se multiplicaram naturalmente em milhares de novas plantas, de forma desordenada ao longo do traçado da rodovia, dominando amplamente a cobertura vegetal e, assim, impedindo a possível regeneração plena da vegetação nativa pré-existente.

2) Durante os primeiros anos (10 a 20 anos) os órgãos responsáveis pela conservação da rodovia, DNER/DNIT não realizaram adequadamente serviços de manutenção, exceto precariamente na pista de rolamento, e absolutamente inexistiu restauração na faixa de domínio. Todos os usuários da rodovia lembrarão da sua má conservação em diversos períodos, entre os anos de 1980 e 2010;

3) A falta de manutenção na faixa de domínio da rodovia, que ficou caracterizada pela não remoção sistemática da vegetação arbustiva, que crescia abundantemente ao longo do traçado, reduzindo a visibilidade nas ultrapassagens e, em muitos lugares, ainda dificultando o uso do acostamento e das áreas de escape, em casos de emergência. Esta foi a principal causa do surgimento exuberante de árvores (pinus principalmente e outras espécies) de médio e grande porte nas proximidades do leito da rodovia e na faixa de domínio, pois se não foram removidas quando se confundiam com as demais espécies nativas, também não o foram quando atingiram o porte arbóreo atual.

O que fazer agora?

1) Manter a vegetação existente, estabelecendo um rigoroso controle de velocidade no percurso e instalação de equipamentos que preservem a segurança dos usuários da rodovia, preservando, assim, o túnel verde que a natureza se encarregou de formar, graças à incúria dos órgãos rodoviários, mas que, inegavelmente, confere um aspecto paisagístico de beleza singular e que justifica em muito as reações contrárias ao "corte dos pinus"; e,

2) A outra medida seria a remoção seletiva das plantas que se desenvolveram na área construtiva da estrada - acostamento, aterros, taludes de proteção da faixa de rolamento - e nas áreas de escape da faixa de domínio, que efetivamente contribuam para a segurança no trânsito, restabelecendo as medidas de segurança prescritas no Código Nacional de Trânsito.

O debate jurídico e ecológico que se trava nesse momento, na nossa comunidade, não pode deixar de considerar a premissa de que ao implantar a rodovia BR 287 foi necessária a realização de uma verdadeira agressão ao meio ambiente natural, com remoção de áreas florestais, de campo nativo, escavações de solo, subsolo e remoção de rochas para construção de aterros, terraplenagem, além do deslocamento de espécies animais de seu habitat natural. Foi o preço pago pelo progresso?

Agora se trata de uma questão bem menor, a meu juízo, a remoção ou não de espécies exóticas (pinus) que impactaram o ambiente construído originário da rodovia, pela ação deliberada inicialmente da mão humana.

Há diferenças consideráveis, portanto, sobre o impacto ambiental de ontem e de hoje, mas a importância da rodovia ainda permanece a mesma. 

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