Há trinta anos o exgovernador Leonel Brizola voltou ao Brasil depois de um exílio de 15 anos. Ele desembarcou em São Borja, porque o regime militar, que ainda governa o Brasil, não autorizava manifestações populares nas capitais e grandes cidades.
Encontrava-me, coincidentemente, no interior do município de São Borja, realizando serviços técnicos numa lavoura de arroz, na várzea do Botuí. Fui convidado pelo gerente da empresa, Arizoli Gindri Junior (Cuca), para acompanhá-lo à cidade, a fim de acompanhar a chegada do ex-governador Leonel Brizola. Esta foi a primeira vez que vi de perto o lendário caudilho, não no aeroporto (foto), mas logo depois, ao chegar à fazenda de Denise Goulart, nas imediações da BR São Borja- Itaqui.
Alguns dias depois, sob a liderança do Dr. Rubem Machado Lang, participei de uma reunião com Leonel Brizola, em São Borja, na residência do então presidente do MDB local, Luis Augusto Dornelles. Juntamente com os santiaguenses, membros do Diretório Municipal do Movimento Democrático Brasileiro, MDB, estiveram presentes Antenor Bazzana, Claudio Furquim, Nissio Castiel, Jaime Castiel, Arizoli Gindri, Olavo Sobrosa, Viriato Vargas de Andrade e Silvio Jauris Cardoso, e acho que o Mário Cardoso Furquim também estava presente. Fomos recebidos amistosa e demoradamente pelo grande líder trabalhista, pois a maioria dos presentes foram seus companheiros partidários e, como ele, também sofreram sanções políticas, econômicas e sociais protagonizadas pelo arbítrio revolucionário, especialmente Rubem Lang, que teve seu mandado de deputado estadual cassado.
Lembro-me de grande parte do diálogo travado entre o grupo de militantes do MDB com o ex-governador Brizola. O Cláudio e o Sobrosa podem ajudar a relembrar esses fatos, sobre os questionamentos que foram feitos na oportunidade, bem como dos argumentos utilizados pelo Dr. Brizola para justificar seus propósitos. Lembro de muitos: Porque “dividir” o MDB para criar o PTB; as razões para refundar o partido Trabalhista Brasileiro – PTB -; a comparação temporal entre o exílio de Getúlio Vargas, na Fazenda Itu, e sua volta ao poder, apoiado pelo PSD e PTB, este “retirado do ventre do velho PSD”, e, da mesma forma, tirar o novo PTB que está oprimido dentro do MDB; o comentário sobre suas divergências históricas com Miguel Arraes; a frágil oposição do MDB ao regime militar e a promessa de revisar as críticas à ação oposicionista, depois de ter sido admoestado pelo Dr.Lang com a seguinte frase, “Dr. Brizola, enquanto o Senhor estava no exílio muitos de nós foram cassados, perseguidos, mortos e cerceados economicamente...” Estes são alguns “flashes” que continuam vivos na minha memória, mesmo 30 anos depois.
Não preciso dizer que, logo depois, o MDB de Santiago se transformou no PDT e no PMDB, que embora percorrendo campos opostos no Estado, sempre caminham juntos em Santiago.
Estes acontecimentos reforçaram a minha militância partidária, pois fortaleceram a minha consciência política; a disposição de lutar pelo pleno restabelecimento das liberdades democráticas com eleições diretas em todos os níveis; mudanças no modelo econômico e justiça social, que empolgaram a minha participação na militância política e partidária, em grande parte desses trinta anos- Uma geração se foi, outra continua.
Hoje, num rápido balanço, conquistamos a plenitude democrática, com liberdade de expressão e eleições livres; mudamos o modelo econômico, mas ainda concentrador de riquezas; avançamos na universalização dos serviços públicos essenciais como educação, saúde, renda mínima (bolsa escola e família, seguro desemprego), previdência social. A luta não terminou, outros desafios estão colocados para as atuais gerações; precisamos avançar na distribuição mais equitativa da renda nacional, na melhoria da qualidade dos serviços públicos de saúde e de educação, nos serviços de previdência social e ainda, o maior desafio, promover a inclusão social de milhões de brasileiros que ainda vivem abaixo da linha de pobreza, além da restauração dos princípios éticos no comportamento político e no uso dos recursos públicos.
Um comentário:
Nossa, isso é história!!!!
Postar um comentário