segunda-feira, 1 de abril de 2013

A CRISE NA ARMAZENAGEM - II

Ouvi a entrevista, na Rádio Santiago, e li, em Zero Hora - pág. 16, hoje, 1º, do presidente da Cotrijuí, Vanderlei Fragoso, sobre a situação que envolve a cooperativa que está com os salários de seus colaboradores impagos desde janeiro do corrente, contabilizar uma dívida de 270 milhões de reais decorrentes de débitos de associados, produtos já vendidos pela cooperativa e não pagos aos associados, dívidas com fornecedores de insumos diversos, além da grave e urgente necessidade de equacionar a armazenagem da safra de soja dos cooperados em 2013.

As cooperativas surgiram há mais de 100 anos, para aumentar o poder de barganha dos pequenos produtores e equipará-los aos grandes na hora de comercializarem as colheitas. Essa história todos conhecem, como também sabem os rumos que o cooperativismo agrícola seguiu nas últimas décadas no Rio Grande do Sul. Poucas organizações persistem no mercado com níveis elevados de credibilidade, muitas foram liquidadas e outras, com dificuldades, foram incorporadas por outras com aparência de terem maior solidez. Esse parece ser o caso da nossa Tritícola.

A proposta do presidente da Cotrijuí, de que os associados depositem seus grãos nos silos da cooperativa como se esses fossem Armazéns Gerais é sintomática quanto à saúde e credibilidade da tradicional organização cooperativa, em manter seu propósito de bem amparar os associados no momento mais crítico e decisivo da atividade produtiva - a comercialização  da safra.

Certamente que  a Cotrijuí mantém devidamente formalizados os registros nos órgãos competentes das diversas unidades de recebimento e armazenagem, alugadas e de sua propriedade. Essa modalidade de armazenagem - Nota Fiscal do Produtor emitida para depósito em próprio nome, na Unidade de Armazenagem, assim reconhecida legalmente com Armazém Geral - descaracteriza o Ato Cooperativo, procedimento normal nas relações comerciais entre cooperativa e cooperado. Portanto, o simples depósito da safra nesta condição passa a ser uma transação igual a de um produtor não associado. Isto significa dizer que o depositante  de produtos ou mercadorias num armazém geral não responde pelos compromissos financeiros e tributários do proprietário dos Armazéns.  No caso dos cooperativados, em tese, por serem solidários, poderiam ser alcançados somente no caso de liquidação da cooperativa, em tese, mas as possibilidades são remotas.

Meu desejo é de que a Cotrijuí supere rapidamente essas imensas dificuldades que, por extensão, refletem a dramática situação individual de milhares de produtores, cooperados ou não, que não conseguem vencer a histórica inadimplência causada por frequentes frustrações de safras, cenários econômicos adversos e insuficiência de políticas públicas redentoras e estabilizadoras da atividade produtiva no meio rural. Mais do que nunca é preciso que os agentes públicos, deputados, vereadores e prefeitos, voltem seus olhares e suas ações para a realidade das cooperativas, especialmente na nossa microrregião, onde elas são fundamentais para a sobrevivência da agricultura familiar e dos médios produtores.

Há que buscar novos caminhos para preservar as conquistas do cooperativismo. Esclarecer os desmandos do passado é importante para recuperar a credibilidade, mas é preciso ir além, buscar outros modelos de organização interna, controle e gestão das cooperativas. Neste momento, é muito importante o papel dos poderes públicos municipais na mobilização dos produtores, no apoio aos dirigentes bem intencionados e  encetando parceria institucional para reestruturar o que ainda resta de organização cooperativa nossa região.

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