quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A crise econômica, o desemprego e a saúde pública

A crise financeira mundial extrapola os limites econômicos e pode influenciar até a rede pública de saúde pela migração de beneficiários de planos privados para o Sistema Único de Saúde (SUS), conforme afirma o secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, Antônio Alves de Souza. Essa será uma das conseqüências indiretas que o país poderá enfrentar considerando que grande parte do setor produtivo organizado, especialmente o industrial, que é composta por trabalhadores que não usam o SUS na sua rotina, pois possuem planos coletivos de saúde apoiados pelas suas empresas. Com a perspectiva de aumento das taxas de desemprego nesses setores, da mesma forma deverá ocorrer a transferência de usuários dos planos privados para o sistema público.

Como o SUS é um sistema inclusivo e universal com a entrada de mais pessoas haverá maior exigência de recursos públicos para manter os serviços de saúde funcionando satisfatoriamente, consultas, exames complementares, internações, remoções, etc. Como enfrentar a crise com sistema universal de saúde? Onde buscar financiamento para ampliar os serviços, já escassos para atender a demanda atual? Certamente o governo federal vai buscar alternativas e priorizar as áreas mais afetadas.

Mas e bom lembrar que os serviços de saúde são gerenciados pelos estados e mais diretamente pelos municípios, onde os efeitos mais dramáticos do desemprego e da p
rocura por atendimento médico e hospitalar são sentidos com maior intensidade e tensionam fortemente os gestores municipais. Urge portando a imediata conscientização das nossas comunidades para o possível agravamento da crise econômica mundial que já se faz sentir no país, através do fechamento de empresas, demissões de trabalhadores, cortes nos orçamentos públicos, redução da oferta de crédito para o setor produtivo e para o consumo, além da instabilidade da produção primária.

Conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em setembro de 2008 a saúde complementar contava com 40,8 milhões de beneficiários em planos de assistência médica privada, destes 73,5% são vinculados a planos coletivos, aproximadamente 28 milhões de pessoas são beneficiários (funcionários e familiares) destes planos.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abrange), Arlindo de Almeida, até o momento não foi sentido nenhum efeito da crise, mas as férias coletivas anunciadas pelas empresas são prenúncio de demissão. O segmento atende a 35,13% dos beneficiários dos planos de saúde e tem 670 operadoras em todo o país. Quando há demissões normalmente as pessoas têm o direito de permanecer no plano, mas pagando o valor integral. Só que quem perde o emprego tem outras prioridades, precisa sustentar a família.

Por outro lado as próprias operadoras de planos de saúde também poderão sofrer um impacto negativo com o desemprego e um desequilíbrio financeiro, pois a atividade dessas empresas depende muito de mão-de-obra. Com a diminuição de usuários alguns serviços poderão ser cortados e gerar demissões na estrutura administrativa dessas organizações empresariais.

Também é verdade que muitos usuários dos planos de saúde privados já acessam o SUS quando necessitam de serviços especializados e estes não têm o custo integralmente coberto. Quando o beneficiário de um plano de saúde privado utiliza o SUS para não ter nenhuma despesa com os serviços requeridos desonera o plano privado de sua responsabilidade financeira e, por conseqüência, sobrecarrega o sistema público. Isto não poderia caracterizar um sistema de saúde misto, privado-público, que o cidadão usa de acordo com a sua conveniência? Ou não?

Nenhum comentário: