sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Uma guerra sem fim

A guerra na Faixa de Gaza produz manifestações apaixonadas algumas vezes, favoráveis e desfavoráveis tanto para Israel quanto para o Hamas. Leio as posições das duas correntes e cada vez mais me convenço de que nessa guerra não haverá vencidos e nem vencedores, exceto a vitória do ódio e do ressentimento secular que divide os povos do Oriente Médio. Abomino o ódio e o ressentimento como forma de reagir às minhas derrotas, perdas ou vitórias.

Vejo com profunda tristeza a continuidade desse conflito, sem previsão para terminar, pois a causa fundamental – ódio étnico e religioso - só será superada se houver diálogo, tolerância e entendimento entre os povos beligerantes.

No Brasil convivemos pacífica e ordeiramente com comunidades de descendentes judaicos e árabes, onde percebemos a existência de fraterna convivência no solo brasileiro.

Há poucos dias li uma carta do Diretório Nacional do PT assumindo posição sobre o conflito Israel-Hamas. Hoje leio, no Blog do Políbio Braga, uma carta do deputado estadual Adão Villaverde (PT-RS), externando posição divergente à do Diretório Nacional do seu partido.

Publico abaixo a carta do deputado Villaverde, dirigida ao líder da comunidade judaica, porque reflete, a meu juízo, a preocupação de muitas pessoas que conheço e que convivo, inclusive é o meu sentimento:

"Estimado Presidente Henry:

Reitero reconhecer que a nota do nosso partido não está equilibrada, na medida em que não separa a defesa da causa palestina dos inaceitáveis métodos do Hamas. Aproveito para te transmitir novamente que eu e outros companheiro(a)s do PT estamos gestionando, junto ao Presidente Berzoini, a necessidade de fazer um reparo a nota inicial.Entretanto, caro amigo, quero te confessar que, como um humanista e herdeiro das melhores tradições da esquerda democrática, não posso ficar indiferente ao que está acontecendo lá no Oriente Médio.

Por isso, acho que tanto a resposta da Federação quanto a do Centro Wiesenthal elidem a questão central, que é a dimensão dos ataques que estão ocorrendo na região e, sobretudo, suas consequências para ambos os povos. E, ainda que não deliberadamente, acabam dando guarida a "velhos métodos", que nada mais são que semeadores e alimentadores de lógicas fundamentalistas, onde os conteúdos e as fundamentações das posições ficam secundarizadas frente à necessidade dos seguidores terem que seguir seus líderes, independente dos erros ou equívocos de suas posições.

Portanto, nós que vivemos uma experiência concreta de convivência em POA de duas grandes comunidades (judaica e palestina) e somos herdeiros da melhor tradição da co-habitação pacífica entre elas, não podemos nem devemos agir como se estivéssemos no campo de batalha. Nossa responsabilidade é, portanto, buscar o ponto de equilíbrio necessário e repudiar métodos e posturas inaceitáveis e estranhas ao estado de direito e à democracia. Esse é o dever de todo democrata e humanista, que com certeza somos.
Para finalizar, recupero aqui um momento muito importante e singular de nossa querida Porto Alegre, quando a Rede de Cidades pela Inclusão Social e a Paz, em janeiro/2003, definia como um de seus objetivos lutar por uma cultura de paz e pelos direitos humanos, tendo o papel importante para divulgação internacional da Carta de Porto Alegre, no âmbito do III Fórum social Mundial. Esse documento foi escrito pelos seis conferencistas da atividade Diálogos pela Paz, que reuniram judeus e palestinos no III Fórum Social Mundial.

A Carta, em português, foi lida pelo prefeito de Porto Alegre, João Verle, e a versão, em inglês, foram lida por representante do grupo Galia Golan, na presença de 16 mil pessoas que lotaram o Gigantinho. A manifestação dizia: Nós, pacifistas israelenses e palestinos, estamos determinados a buscar: paz, justiça e soberania para nossos povos e um final à ocupação israelense nos territórios ocupados em 1967; uma solução acordada e justa para a questão dos refugiados palestinos, conforme a resolução 194 das Nações Unidas.

Clamamos a comunidade internacional e as Nações Unidas, em particular, para, urgentemente, intervir para: colocar um fim a esta situação trágica e um final à violência em ambos os lados, o imediato encaminhamento de negociações de paz, a fim de possibilitar uma paz justa e duradoura.

Adão Villaverde"

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