Xico Graziano, engenheiro agrônomo, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em recente análise da conjuntura da agropecuária brasileira, no seu site, afirma que os recordes de produção vêm desde a década anterior, quando se estabilizou a economia com o Plano Real, pois com inflação galopante, mais valia a pena aplicar o dinheiro no mercado financeiro que arriscar na produção agrícola.
O ganho fácil da especulação cedeu lugar ao trabalho produtivo no campo. Foi fundamental para o processo a instituição da taxa fixa de juros no crédito rural, em 1999, eliminando a correção dos financiamentos rurais pelos antigos índices - ORTN, TJLP, TR, IGPM, etc.
O crescimento da produção agrícola serviu para abastecer o mercado interno e, ao mesmo tempo, exportar para o mercado externo. Entre 1995 e 1999, o valor médio das exportações anuais chegava a US$ 21,7 bilhões. Em 2007, a balança comercial do agronegócio atingiu uma receita externa de US$ 58,4 bilhões, com acréscimo de 170% no período. Os agricultores, pequenos, médios e grandes, ajudaram a pagar as contas externas do País. Poucos sabem disso.
Duas razões determinaram esse desempenho: A criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o fortalecimento do sistema cooperativista.
Criado em 1996, no governo de Fernando Henrique, o Pronaf tem sido aperfeiçoado, assegurando ao agricultor familiar uma fatia crescente do crédito rural. Nesta safra que se inicia, o crédito da agricultura familiar monta a R$ 13 bilhões, a serem distribuídos a 2,2 milhões de unidades rurais.
Quanto ao cooperativismo, a maioria das cooperativas, especialmente no Sul, Sudeste e Goiás, fortaleceram-se no mercado da agropecuária, profissionalizando suas gestão e implantando eficazes modelos de gestão solidária. Algumas delas, geridas com base no cumpadrismo, autodissolveram-se ou foram incorporadas.
A crise no mercado financeiro gera incertezas sobre a economia, adiando ou suspendendo os investimentos. Na agricultura poderia ameaçar o ciclo virtuoso da expansão agropecuária no Brasil. Algumas dúvidas assustam nossos empresários rurais, três delas são preocupantes:
A primeira recai sobre a oferta de crédito no mercado dominado pelas multinacionais que ofertam boa parte do financiamento das lavouras, principalmente em Mato Grosso. Esse mecanismo assegura adiantamentos em espécie ao produtor rural, vinculados ao recebimento na colheita. São os contratos denominados de "soja verde".
A segunda, são as dúvidas quanto à demanda internacional de alimentos, especialmente com as compras de grãos pela China e demais países asiáticos. A alta no preço internacional das commodities já havia instabilizado o mercado mundial de proteína animal e vegetal. Agora, a dúvida aumentou.
A terceira é descobrir como estará planilha de custos e receitas na época da colheita. Os preços dos insumos importados cresceram demasiadamente, enquanto o dos produtos caíram no mercado internacional. A dúvida é se a desvalorização do real vai compensar a perda no lucro das exportações. Certamente o prejuízo será maior para os agricultores endividados.
A escassez do crédito exige rapidez na atuação do governo federal, porque no campo, as chuvas e o calor chegaram, e é hora de plantar, ao contrário da indústria ou comércio que podem esperar para saber como ficará a economia.
Não existe alternativa para o produtor rural - ou ele planta agora, e arrisca, ou perde a época de semeadura, com prejuízo na certa.
Fonte:
www.xicograziano.com.br