domingo, 12 de outubro de 2008

Que efeitos a crise americana acarreta ao setor agropecuário brasileiro?

O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, concedeu entrevista ao jornal Estado de São Paulo, analisando o impacto da crise econômica americanal sobre o setor agropecuário brasileiro, alertando aos produtores rurais e às lideranças econômicas de que "É preciso se preparar para a guerra", levando em conta os efeitos que a crise americana vai acarretar ao setor agropecuário brasileiro:

  • "O primeiro efeito é na disponibilidade de crédito rural. Em relação ao crédito, tínhamos um problema interno independente da crise externa, determinado pelo brutal aumento de custo para os produtores rurais decorrente da alta nos preços dos fertilizantes, dos combustíveis e do aço. Tínhamos uma demanda de mais reais por hectare para o crédito de custeio em função desse custo de produção."O que aconteceu foi uma redução nos depósitos à vista quando houve a extinção da CPMF. Como esses depósitos são a maior fonte de recursos para o crédito rural, tivemos um descasamento entre a maior necessidade e a menor oferta de crédito.
  • Ainda em relação à questão interna, muitos produtores que teriam acesso ao crédito em situação normal não terão porque não resolveram seu próprio endividamento.
  • A esses dois fatos se agrega um terceiro ainda de origem interna que era a expectativa pleiteada pelo próprio governo de aumentarmos em 5% a produção, com aumento de área plantada inclusive, para o Brasil se credenciar a ocupar os mercados que se abriam com preços mais elevados, em função do desequilíbrio entre oferta e demanda de alimentos em termos globais."
" Aí vem a crise e interfere nesse cenário. Interfere de maneira negativa em três vertentes.
  • Primeiro, no financiamento das multinacionais, moageiras, tradings, sobretudo de soja, que representam quase 30% da oferta de crédito para essas culturas. Essas empresas tiveram corte de crédito nas suas matrizes e estão deixando de financiar sobretudo o produtor de soja. Houve redução de crédito especialmente no Centro-Oeste, onde estão os grande produtores.
  • A segunda vertente foi a redução do Adiantamento de Contrato de Câmbio, o ACC, que é o recurso que financia as exportações, inclusive as agrícolas. No ano passado, o agronegócio exportou o equivalente a 36% de todo volume exportado pelo Brasil em dólares. A escassez de recursos para a exportação pode comprometer até o próprio saldo comercial da balança brasileira.
  • O terceiro fator: o sistema financeiro brasileiro está assustado com esse processo e tem burocratizado o crédito para o agricultor. Embora existam regras, o dinheiro não está chegando na mão do agricultor. A agricultura é uma atividade com tempestividade. Se o dinheiro chegar depois da chuva, depois do plantio, é inútil. Todos esses fatos sinalizam uma safra muito mais cara, muito mais exigente de recurso de crédito e com muito menor disponibilidade desse crédito." Fonte: Blog do Noblat

Comento:

E no Rio Grande do Sul, especificamente na nossa região, quais as ações que estão sendo desenvolvidas pelas lideranças para mobilizarem os produtores rurais no sentido de que avaliem o impacto, na sua própria atividade produtiva, da possível falta de crédito para financiar as lavouras de verão, da elevação dos preços dos insumos e da instabilidade na futura comercialização dos nossos principais produtos?

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