A partir de hoje, este blog contará com uma colaboradora muito especial, Dayana Pessota Leite, advogada, que abordará semanalmente temas de sua livre escolha. O primeiro tema que aborda é sobre a participação da deputada Manuela D'Ávila na vida política, como um motivo para estimular a participação política da juventude brasileira. Eis o artigo:
A deputada Manuela
Particularmente, não simpatizo com o partido que a Manuela D’Ávila, deputada federal eleita pelo PC do B, escolheu. Acho uma ideologia ultrapassada, ainda que a deputada em questão tenha, nas suas fotos de campanha para prefeita de Porto Alegre, retirado a foice que caracteriza a sigla. Mas hoje em dia, partidos políticos dizem muito pouco e sua ideologia menos ainda, inclusive para seus próprios militantes, pois acho improvável que, assumindo uma prefeitura - caso Manuela tivesse sido eleita - fosse levar ao pé da letra a bandeira comunista.
De qualquer forma, Manuela na política não é nada ultrapassado, antes pelo contrário, dá um certo alento e esperança para o futuro. Jovem, bonita, simpática, educada, inteligente e egressa de uma família de classe média alta. Poderia ter feito direito, estudado para concurso e aliando isso, sorte e oportunidade, conseguido uma vaga na magistratura ou promotoria. Ganharia super bem e teria a tão desejada estabilidade financeira, apontada pela grande maioria dos candidatos que buscam o concurso como motivo principal que os leva a esse caminho (e não, veja só, a busca por um mundo mais justo).
E, assim, ela poderia aparecer em colunas sociais com vestido de Clarice Inning, sentar na primeira fila dos desfiles do Donna Fashion Iguatemi, participar de confrarias de espumante, de charuto e outras afins, ou atividades mais sérias em prol do bem comum, como da maratona para arrecadar fundos ao instituto contra o câncer, chás beneficentes, como o da liga contra o câncer no Country Club, entre outras dezenas de atividades procuradas por seus pares para aliviar a culpa e preencher seu vazio existencial.
Curiosamente, Manuela escolheu a vida política e, ao seu modo, quer contribuir para um País melhor, até porque, tendo em vista sua própria condição, especialmente a idade, não creio que tenha procurado esse caminho como meio de sustento, como acontece muito entre políticos que não deram certo nos seus empregos e/ou profissão e buscam essa via para adquirir poder e ganhar dinheiro rápido, ou, ainda, por tradição política.
Digo isso porque hoje se fala que há ausência de oposição no Brasil, algo muito perigoso e que pode, num futuro próximo, quase inviabilizar a democracia. Eu acho que a situação é mais grave que essa, ou seja, vulgarmente falando, o “buraco é mais embaixo”. O que falta são novas lideranças, jovens inspirados e preocupados que se envolvam com a política, que tenham noção de Estado, de direito e da ausência dele. De uma gurizada que se interesse pelo que acontece a sua volta, com o vizinho e não apenas com seu próprio umbigo.
Hoje, se um fulano tem o carro que ganhou do Papai roubado, a culpa é da violência, da polícia despreparada, enfim, do Estado. Não lhe ocorre que ele também faz parte do Estado e que a responsabilidade do que acontece – de bom e de ruim - também é dele, por não cobrar do político uma posição, do delegado um resultado ou, quem sabe, ele mesmo, junto a outros, propor soluções e medidas (ações criativas e não apenas reativas). Nada. O fulano limita-se a contar a triste história para seus amigos também traumatizados com eventos semelhantes, faz alguns meses de terapia, aciona o seguro e continua sua vidinha, como se não fosse com ele. Mas ele é responsável. Eu sou responsável e todos que vivem em sociedade são.
Manuela tem muito a aprender e crescer. Vai acertar e errar muitas vezes. Beleza, como ela diz. E tem toda a minha admiração e torcida para que faça um bom trabalho, mantenha seus ideais e sua ética e, ainda, consiga inspirar seus pares, nesse mundo tão superficial e individualista de hoje.
Dayana Pessota Leite
Porto Alegre, 29 de outubro de 2008
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