Uma pesquisa realizada pela Universidade Nacional de Brasília, por solicitação da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, apontou o padrão de comportamento dos brasileiros que furam fila e a conduta ética dos servidores públicos brasilienses. Este trabalho foi motivo de um artigo publicado no site Contas Abertas pela jornalista Amanda Costa. Reproduzo trechos do artigo e aproveito para estimular nossas universidades locais para promoverem semelhante pesquisa na nossa região. Talvez, algum acadêmico possa se interessar e produzir uma monografia de conclusão do curso de graduação ou especialização sobre o assunto.
"Filas em hospitais, em cinemas, nas rodoviárias, nos aeroportos, em restaurantes, nos ambulatórios, PSFs e até no trânsito. Há muito tempo o brasileiro passou a conviver com a cultura das filas e, conseqüentemente, com a tentação de furá-las. Alguns foram vítimas dos furões, já outros passaram a frente nas filas, mas a concordância é que pelo menos uma vez a hipótese de furar filas já foi cogitada. Pesquisa feita a pedido da Comissão de Ética Pública, órgão vinculado à Presidência da República, aponta que quase 52% dos brasileiros já furaram ou furam filas.
No Brasil, houve até quadrilhas que se especializassem em furar filas em bancos utilizando idosos para passar a frente. Em alguns países foram criadas, inclusive, leis para punir os furões de fila. A fila foi também tese de mestrado. O psicólogo Fábio Iglesias, por exemplo, do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), pesquisou o comportamento de quem freqüenta filas na capital federal e, por meio da análise, Iglesias reuniu as estratégias mais adotadas por quem fura fila: a maioria finge distração e usa o celular. Todavia, o método mais usual é pedir uma informação e se infiltrar na fila, aos poucos.
O quantitativo dos furões de fila foi feito pelo professor Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília, entre março e junho deste ano e consta do estudo O padrão de conduta ética dos servidores públicos. No total, foram ouvidas duas mil pessoas de todo o país, entre funcionários públicos e de várias outras profissões. Mas a pesquisa só foi de fato realizada com os 1.767 entrevistados que disseram já ter ouvido falar sobre a ética.
O estudo analisou a conduta dos servidores e brasileiros em geral. Para Ricardo Caldas, há um desconhecimento expressivo na sociedade sobre o significado de ser ou não ético. Atos ilícitos são mais freqüentes e aceitos do que se poderia esperar na sociedade civil brasileira.
A pesquisa também apontou que, na opinião dos entrevistados, 44% acham que o servidor público atua disciplinarmente apenas para cumprir sua jornada diária de trabalho. A maioria dos entrevistados, quase 58% acredita que o serviço público no país é amador ou semi-profissional. E mais 49,7% acham que os servidores públicos não estão preparados para o trabalho deles.
Para 42,4% dos entrevistados, os servidores atuam para agradar os políticos que os indicaram, para beneficiar os amigos e para agradar a si mesmo ou a sua família (nepotismo). Os servidores estão mais preocupados com o Estado ou com o governo, é o que afirma 56,6% dos entrevistados. Para os escutados na pesquisa, a preocupação com a sociedade obteve 33,3% da pontuação.
Outros 41% responderam que caso façam um pedido à administração pública e não sejam atendidos, depois de terem também tentado sem êxito o “jeitinho brasileiro”, recorrem as opções de oferecer um agrado (presente), oferecer dinheiro ou oferecem um favor para conseguir que o pedido seja atendido.
O estudo também revelou que 50,3% dos entrevistados são tolerantes com o nepotismo, pois afirmaram que contratariam parentes se fossem servidores públicos ou políticos. Os resultados completos da pesquisa devem ser publicados pela Comissão de Ética Pública em dezembro."
Amanda Costa/Do Contas Abertas
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